Por devana babu
São
Sebastião e o retrocesso
Nesse último
mês, uma grande onda de calor, ardor, incêndios e suor assolou o
nosso querido vale de São Sebastião.
Um dos
motivos foi a grande seca e uma certa constipação climática que
nos assolou por um tempo, com uma chuva sempre ameaçante mas nunca
chegante, provocando um calor realmente infernal.
O outro
motivo foram as ainda quentes eleições de 2014, e mais
especificamente o segundo turno.
Durante esse
período, presenciamos algo praticamente inédito: o envolvimento
ardoroso, caloroso, (climática e politicamente) de cem por cento da
população no processo e no debate eleitoral. Incluo aqui os
abstêmios e os nulos, que o fizeram não por indiferença, mas por
uma posição política bem marcada.
Isso foi
lindo! Nunca vimos algo parecido.
Podemos
atribuir isso, em primeiro lugar, ao advento da internet e o acesso
quase ilimitado e ininterrupto que quase todos têm à ela.
Por outro
lado, isso também se deve à explícita, nítida e extrema
polarização que presenciamos no segundo turno:
À direita,
pesando 450 kg, macho, adulto, branco, neoliberalista, partidário da
meritocracia, trazendo atrás de si toda uma carga de crimes, abusos,
violência e irresponsabilidade, o candidato tucano Aécio Neves.
À esquerda,
de roupão vermelho, a ex-guerrilheira, comunista,
sucessora de Lula, última detentora do cinturão, tendo
vencido inimigos históricos como a miséria, a desnutrição e o
descaso com a educação, a presidenta Dilma Roussef.
Óbvio que
isso inflamou uma batalha bastante acirrada, posto que os dois
candidatos se põem em extremos completamente opostos da grande
arena do Brasil, ou do mundo; de um lado, a defesa de ideias
burguesas como recessão, inflação, estagnação econômica, de um
ponto de vista estritamente industrial, que muito afligem os donos do
capital e pouco interessa aos trabalhadores, sob esse viés. De
outro, a luta contra a fome, o desemprego, a pobreza e a falta de
recursos, esses sim bastante importantes para as camadas mais
populares, que são muito mais da metade da população.
Assim, tendo
dois extremos travado a batalha, partindo das pessoas mais
aguerridas, as demais foram se magnetizando e assumindo pouco a pouco
uma ou outra cor, de forma que, ao fim, presenciamos uma completa
bipolarização da sociedade brasileira. Resultado: Dilma Roussef foi
eleita, com uma diferença de apenas 3,5 por cento dos eleitores (os
números exatos não interessam ao desenvolvimento desse
tema).
Disso, tiramos dois saldos positivos. O primeiro foi que, devido à ardência do prélio, criou-se um ambiente e o desenvolvimento de uma forte politização de uma população que até pouco tempo vivia na onda do “não dou a mínima pra politica” ou “todo político é ladrão”. Seria de supor, nessa onda, que as votações não seriam tão expressivas e, tampouco, as discussões. Entretanto, aquele velho ardor político, a defesa de teses, tudo veio à tona outra vez. Com isso, as pessoas se informaram e refletiram mais, o que foi excelente. Não fosse talvez a superficialidade de tais pensamentos, tanto de um quanto de outro lado, mas não é isso que importa: as portas foram abertas, podemos esperar então que os corredores só sejam mais e mais percorridos daqui para a frente. Até mesmo as crianças entraram nesse processo, garantindo que a próxima geração já não será tão alienada e apática quanto a nossa.
Disso, tiramos dois saldos positivos. O primeiro foi que, devido à ardência do prélio, criou-se um ambiente e o desenvolvimento de uma forte politização de uma população que até pouco tempo vivia na onda do “não dou a mínima pra politica” ou “todo político é ladrão”. Seria de supor, nessa onda, que as votações não seriam tão expressivas e, tampouco, as discussões. Entretanto, aquele velho ardor político, a defesa de teses, tudo veio à tona outra vez. Com isso, as pessoas se informaram e refletiram mais, o que foi excelente. Não fosse talvez a superficialidade de tais pensamentos, tanto de um quanto de outro lado, mas não é isso que importa: as portas foram abertas, podemos esperar então que os corredores só sejam mais e mais percorridos daqui para a frente. Até mesmo as crianças entraram nesse processo, garantindo que a próxima geração já não será tão alienada e apática quanto a nossa.
O que mais
se viu foi a definição de lados.
Esse foi o
segundo saldo positivo: muitas pessoas saíram do armário, tanto no
sentido de que muitas ideologias latentes foram expostas a estímulos
e assim floresceram, quanto no sentido de que muitas ideologias
ocultas foram forçadas a vir à luz e posições serem assumidas.
Ideologia é ruim, mas não é esse o tópico, e trato aqui de
ideologia em sentido muito, muito lato.
Disso,
decorreu que: O PT saiu fortalecido, muito mais do que outros
partidos, especialmente o PSB que, ao contrário, está fraco e
capenga. No DF, PSB se fortaleceu pela vitória de Rollemberg, mas
isso não salva o fiasco que foram as eleições presidenciais para
esse partido. O PSDB também ficou muito fortalecido, e se a esquerda
não abrir o olho, eles vão levar as eleições de 2018 facilmente.
Em sentido mais geral isso equivale a dizer que uma onda de
esquerdismo e libertarismo também ficou muito mais forte: defesa das
igualdade, justiça e liberdade, , combate da desigualdade, injustiça
e autoritarismo. Por outro lado, a onda reacionária, que já vinha
crescendo, está assustadoramente forte: glorificação do sistema
militar, defesa da meritocracia, crença no sistema capitalista,
enaltecimento da desigualdade econômica, apologia do estado de
exceção, trazendo em seu bojo a homofobia, a xenofobia, o racismo,
e o machismo.
Tendo claro
esse panorama, notamos que as forças dessas ideologias em cada parte
do Brasil se relaciona de forma variada, e podemos colocar de maneira
bem simples:
Nos estados onde predominava a pobreza e a exclusão, as ideologias de esquerda, em reconhecimento aos serviços prestados por Dilma e lula ao longo de 12 anos, estão muito mais fortes do que a onda reacionária.
Nos estados onde predominava a pobreza e a exclusão, as ideologias de esquerda, em reconhecimento aos serviços prestados por Dilma e lula ao longo de 12 anos, estão muito mais fortes do que a onda reacionária.
Já naqueles
estados predominantemente industriais e comerciais, nos estados mais
ricos economicamente (ricos, mas com riqueza desigualmente
distribuída), em reconhecimento aos serviços prestados por lula e
Dilma nos últimos doze anos, a onda reacionária está cada vez mais
forte, apesar de já ser praticamente uma tradição em tais estados.
Os motivos
já são evidentes, mas vamos explicitá-los: o PT está distribuindo
renda, diminuindo a desigualdade, promovendo a igualdade racial e
sexual, equilibrando o peso entre patrões e empregados.
Isso é bom
para quem é pobre e trabalhador, porque está sem fome, está
estudando, está recebendo direitos pelos serviços prestados aos
patrões.
Isso é ruim
para quem é rico e patrão: está lucrando menos, está mandando
menos, e logo não terá mais poder de dominação intelectual sobre
a camada popular porque ela está se educando.
Se por um
lado a votação expressiva de Aécio ainda se deve a um ranço desse
mundo onde os empregados acreditam nos patrões e votam em quem
convém a eles, e não a si, por outro lado a vitória do PT também
se deve a um pezinho que botamos no futuro onde o trabalhador, a base
da nossa sociedade, é que manda.
Nesse ano,
foi a base que mandou. Nesse ano, mandou a periferia, e não o
centro.
É por isso
que a cidade de São Sebastião decepciona.
São
Sebastião é uma cidade dormitório, ou seja, uma cidade de
trabalhadores. E atualmente o trabalhador é explorado. Mas não
tanto quanto há doze anos: hoje há comida, carro e escola. Podem
não ser das melhores, mas pra melhorar primeiro precisa existir, e
agora existe, e não é dos piores também não. Saindo de são
Sebastião, chegamos ao jardim botânico e ao lago sul.
Lá, eles tem carro, eles tem grama, eles tem casa e a grama é bacana. Nós vamos todos os dias limpar o jardim deles, por um salário indigno. Mas agora galgamos um degrau: temos um carro popular, temos nossas próprias ferramentas, o salário mínimo é maior do que a inflação, e quem está pagando essa conta dessa vez são eles, que lucraram as nossas custas por anos. Eles não querem isso: nos dizem para votar em Aécio, e apesar de sua visão política favorecer esses patrões nos desfavorecendo, muitos de nós obedeceram uma vez mais, contra nós mesmos, as ordens do chefe.
Lá, eles tem carro, eles tem grama, eles tem casa e a grama é bacana. Nós vamos todos os dias limpar o jardim deles, por um salário indigno. Mas agora galgamos um degrau: temos um carro popular, temos nossas próprias ferramentas, o salário mínimo é maior do que a inflação, e quem está pagando essa conta dessa vez são eles, que lucraram as nossas custas por anos. Eles não querem isso: nos dizem para votar em Aécio, e apesar de sua visão política favorecer esses patrões nos desfavorecendo, muitos de nós obedeceram uma vez mais, contra nós mesmos, as ordens do chefe.
Aqui na
nossa região eleitoral, Dilma teve 34 por cento dos votos contra 64
por cento e Aécio.
Essa região
compreende São Sebastião, Jardim Botânico e Lago Sul.
Isso quer
dizer que, nesse turno, a cidade dos empregados votou no candidato
dos patrões, ou seja, defendemos o direito deles pagarem barato,
não garantirem direitos, roubar nossas vidas na labuta diária, nos
fazerem ir espremidos em ônibus quebrados e não termos oportunidade
de estudar.
Além de
tudo, esses sessenta por cento invadem as redes sociais com mensagens
xenofobicas e preconceituosas contra os nossos irmãos nordestinos,
dizendo que por terem sido mais pobres, são burros, ignorantes, e
que depois não devem ir a são Paulo, isto é, o estado rico e
instruído (em nossa tola mitologia).
O fato é
que a população de lá é que está vendo a mudança, o fato é que
lá agora tem água e em são Paulo agora não tem... o fato é que
lá os trabalhadores estão estudando e em são Paulo o PSDB vem
acabando com as escolas....
O fato, é
que nessas eleições são Sebastião votou com os inimigos e não
satisfeito em apanhar, ainda defende com unhas e dentes o próprio
verdugo.
Não, os nordestinos não são burros, os nordestinos foram o povo mais inteligente dessas eleições: votaram pela justiça social.
Burros fomos nós, aqui no centro do país. Mas nossa luta continua, e ainda vamos vencer esses salafrários.
Não, os nordestinos não são burros, os nordestinos foram o povo mais inteligente dessas eleições: votaram pela justiça social.
Burros fomos nós, aqui no centro do país. Mas nossa luta continua, e ainda vamos vencer esses salafrários.
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