Às vezes o meu próprio quarto
É tomado de assalto
Às vezes o quarto ao lado
Parece um campo minado
Às vezes a lavadora
Parece uma metralhadora
Às vezes o café da manhã
Parece o dia depois de amanhã
Às vezes a hora da janta
Parece uma guerra santa
Noutras a hora do almoço
É um tremendo alvoroço
Ou como se terroristas
Se disfarçassem de artistas
Como se irmãos e irmãs
Fossem meros talibãs
Às vezes as dores me invadem
E eu me sinto Bin Laden
Andando entre as cavernas
Com bombas por entre as pernas
Com bombas no corpo inteiro
Fingindo-me justiceiro
Com um discurso barato
E uma vida de rato
Às vezes a minha casa
Parece a Faixa de Gaza
E às vezes os meus meninos
São judeus e palestinos
Minha esposa me assombra
Parece uma mulher-bomba
Às vezes meu próprio irmão
Traz no bolso um alcorão
É como se minha família
Só assistisse Al Jazeera
Meu quarto é como um quartel
Lá pros lados de Israel
E o quintal uma esquina
No centro da Palestina
Nas cozinhas caem mísseis
Em conversações difíceis
E às vezes nas salas de estar
Radicais a negociar
Com uma ideologia
Que eu sei não suportaria
A simples argumentação
Do meu mais simples irmão
Às vezes penso que a gente
São as torres do World Trade Center
Firmes em suas posições
Até que surgem os aviões
Das línguas inconseqüentes
E seus torpedos doentes
Às vezes eu me sinto no deserto
Sem distinguir errado e certo
Às vezes tudo é muito punk
Um árabe lutando contra um tanque
E é claro minha língua é uma turca
Disfarçada na inocência de uma burca
Andando numa favela da Líbia
Com um lança-chamas de versos da Bíblia
Às vezes minha ânsia de acertar
Tenta me convencer de que a jihad
Deve se impor a qualquer preço
Mesmo que sejam as contas do meu terço
E mesmo que estas guerras venham a se dar
No tempo do sultão de Zanzibar
E mesmo que sempre que a gente brigue
Não sejam mais que uma blitzkrieg
As interrelações do nosso staff
São vítimas fatais da Luftwaffe
Que sobrevoa nossa cidadela
E deixam cicatrizes e seqüelas
Às vezes fundas às vezes aparentes
Em bombardeios vãos inconseqüentes
Às vezes o meu ideal meu bem
Parece tanto com Jerusalém
Orgulho da nossa terra
Motivo da nossa guerra
2 Comentários
Proprio para uma cerimonia
ResponderExcluirEcumenica do tipo pra professar
Num sabbath ou virado pra meca
Ou entao num domingo diante do altar
E nesse versejar liquidificar as religiôes
E pulverizar aquela citaçao- maldito do homem
Que confia no homem o seu semelhante o pai, irmao.
Ai eu pergunto, em quem confiar entao?
A sorte, poeta, é que eu insisto no "Às vezes" de forma que essa nossa guerrinha doméstica é a exceção e não a regra. Viva o humano, demasiado humano!
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