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Todas elas são iguais

Daquelas de pele suave
àquelas que brotam rugas
fora estes detalhes banais
todas elas são iguais

Daquela feia ninfomaníaca
àquela linda mulher frígida
fora estes detalhes banais
todas elas são iguais

Das opulentas às pobres de tudo
cobertas de papelão ou envoltas num bizon
fora estes detalhes banais
todas elas são iguais

Das que tem abonado galã
às que tem pobre estivador
fora estes detalhes banais
todas elas são iguais

Das de alma mais feminina
às homo, bis, trans ou pan sexuais
fora estes detalhes tão banais
todas elas são iguais

Das que te querem a um toque
às burocráticas e cartoriais
fora estes detalhes tão banais
todas elas são iguais

Ainda que separadas em tudo
exceto "naqueles dias" cruciais
sei que este mote se revertará contra nós
mas seja como for
fora estes detalhes tão banais
todas elas são iguais


Maurício Sena

***

bela a que tem a alma moral
tanto quanto a que tem a alma cortesã
bela a que tem seu verniz cultural
tão belo o erro léxico da não sã
tirante esses detalhes tão banais
todas elas são iguais

bela a que tem seu discurso político
como a que tem o sex-appeal da prostituta
bela a que tem um certo ar non-sense apocalíptico
como a a que traz o temor religioso de uma puta
afora esses detalhes tão banais
todas elas são iguais

bela a que tem lá sua verve ética
como a que traz a ignorância da teúda
bela a que possui boa entonação fonética
como a que traz o sotaque com que a mundana me saúda
subtraídos esses detalhes tão banais
todas elas são iguais

bela a que chega com olhar aristocrático
como a que traz o cílio negro da ordinária
bela a que ostenta um claro sorriso prático
como a que tem o sorriso democrático da perdulária
tirando esses detalhes tão banais
todas elas são iguais

bela a de porte altaneiro
como a que usa o batom da boca da bandida
bela a de aparte zombeteiro
como a que traz o nome feio na boca de mulher da vida
tirante esses detalhes tão banais
todas elas são iguais


Paulo Dagomé

***

Tenho visto, em versos desiguais,
No enfoque de motes desta vida,
A escansão lamentar-se, ressentida,
Vendo a métrica assim sacrificada.
Poesia sem rima, metro, é nada!
Como se fosse vegetal sem seiva,
O poema que sofre dessa eiva
Não tem alma de poesia, é prosa...
E tem gente que vem com essa glosa:
Mas, enfim, todas elas são iguais!

Eu prefiro de seiva os vegetais...
Oh, poetas, não caiam nesse vício!
Manoel, Luiz, Paulo ou Maurício,
Veneremos a alma da poesia!
Não tiremos do som a melodia,
Nem da flor o perfume inebriante!
Ouço a musa pedindo, suplicante,
Que jamais olvidemos metro e rima,
Que afastemos, de vez, o dito acima:
- Mas, enfim, todas elas são iguais!

Do Parnaso escuto os imortais,
Defensores fiéis da poesia,
Condenando qualquer arritmia,
Ou que versos formem mero texto
Sem contexto poético, pretexto
Que transmuta a prosa num poema.
Santa Rita poetizou Moema
Arraigado na forma, como um mito,
E sem crer jamais naquele dito:
- Mas, enfim, todas elas são iguais!

Nem poetas modernos usam mais
Versos livres, em suas criações,
Pois se rendem a Bilac, Camões,
Entre os mestres, dois nomes de respeito.
Meu poema a eles rende um preito,
No labor cinzelado desse mote,
E agradeço, sincero, a minha sorte,
De ser deles um bardo servidor,
Que jamais tem por certo esse teor:
- Mas, enfim, todas elas são iguais!


Manoel Lima

***

Já não me apoquento mais
Com os destemperos dela
E nem mesmo com o vê-la
Com aquela cara emburrada.
Se for olhar bem, não é nada;
Só quer chamar atenção.
Sei que toda essa tensão
Não é nada, é só carência
Hoje tenho experiência:
Todas elas são iguais.

Já não me aborreço mais
Com a confusão, o barulho;
Aprendi. Hoje, mergulho
Nos braços dela e lhe digo:
Pode brigar, eu não ligo.
No fundo você me ama;
quer que lhe diga uma gama
de palavras ao ouvido.
Ela não cede?! Duvido!
Todas elas são iguais.

Já não me emputeço mais
Com o velho emburramento;
Aquele jeito ciumento
Que concorre com leitura,
(isso é o que mais me amargura).
Com o meu computador
Celular? U´a puta dor
De cabeça. E ela já vem:
“Cê tá falando com quem?”
Todas elas são iguais.


Luiz Cláudio Sena

***

As que desenham te querem n'uma moldura;
As que escrevem te querem nos anais;
As que cantam querem seus encantos,
Mas todas elas são iguais.

As que esculpem querem te fazer davi;
As que dançam precisam de um passo a mais;
As que filosofam têm vontade de potência,
Mas todas elas são iguais...

As que desenham querem uma perspectiva;
As que escrevem querem mudar os finais;
As que cantam querem um sonho de verão,
Mas todas elas são iguais!

As que esculpem que me desculpem;
As que dançam coreografam demais;
As que filosofam querem te ver apolínio,
Mas... todas elas são iguais?


Devana Babu

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2 Comentários

  1. Todas nós somos iguais¿

    Daquelas que se arrumam para o marido
    Àquelas que se perfumam para ninguém
    Com esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Das que usam esfoliante para dar maciez
    Àquelas que de tão rachados os pés, sandálias já não são necessárias
    Com esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Das que assumem o controle sobre ‘eles’
    Ou as que esperam apenas um abraço
    Com todos esses detalhes banais
    Será que todas nós somos iguais¿

    Mulher que em seu colo acomoda quatro crianças ao mesmo tempo
    Tem um beijo que cura o arranhado de um joelho
    E até um coração ferido
    Ainda com esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Mulher que tem o olhar de uma moça
    Moça que em seu olhar quer ser mulher
    E com todos esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Daquela cuja suavidade é demonstrada sem tanta força
    Àquela que na sua força esconde a leveza da pétala caída
    E ainda sim me pergunto:
    Com todos esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Deixando a lágrima escorrer pelo rosto
    Sua maneira de expressar seu destino, sua pena,
    O desengano, o amor, a solidão
    E com esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    O leve sorriso quando quer o grito
    Cantarola quando a vontade é chorar
    Mas o choro vem quando se está feliz
    Com esses detalhes banais
    Será que todas nós somos iguais¿

    Em meus desenhos ponho-te em minha melhor moldura
    Em meus versos estás na ponta da caneta
    Ao cantar digo o que sinto
    Dentre esses detalhes banais
    Todas nós somos iguais¿

    Minhas mãos esculpem Adônis
    Meus pés criam um novo passo
    Na potência quero filosofia
    Mas mesmo assim somos todas iguais¿

    Quando escrevo não penso em um final
    Quando danço coreografias brotam de meus pés
    Ao cantar quero o monte inverno
    Mas afinal, somos todas iguais¿

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  2. Bom,
    ao ler esse post senti vontade de escrever isso...
    É claro que o meu não está a altura desses versos, mas...

    PS: tô começando a achar que todas nós somos iguais....rs

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