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São Sebastião?!?! São Sebastião?!?!

Tá! Por onde eu começo? Sim, estava eu na rodoviária de Brasília, tomando meu sorvete misto e procurando um ônibus que partia para São Sebastião, quando um individuo abordou-me dizendo "São Sebastião?! São Sebastião?!" Este, e outros iguais a ele, são seres capazes de sentir de longe o cheiro de sansebastianenses cansados, doidos para chegar a seus não confortáveis lares e capturam suas presas por meio da falsa promessa de conforto, rapidez e segurança! Que é rápido é. Agora, confortável e seguro aí já é exagero. Vai daí que enfiam-nos em uma lata de sardinha móvel, com um odor que não é alucinógeno, mas faz você pular na lata de sardinha mesmo, em movimento. Se você nem imagina do que estou falando acredito então que, você leitor, tenha um carro e que nunca tenha passado por isso, ou, para sua própria sorte esqueceu-se destas torturas. Mas saiba que estou falando dos cobradores de lotação que perambulam ofegantes pela rodoviária com o propósito de levar as empresas de ônibus à falência e os usuários a um estado de coma. Bom, agora tendo conhecimento do histórico do indivíduo que me abordou, voltemos à nossa história.

"São Sebastião?! São Sebastião?!", gritava como se fosse me atacar. Bem, não querendo me submeter a tais torturas, menti pra ele que não iria para São Sebastião, mas na verdade não queria ir de lotação também pelo fato de ser suscetível a náuseas dentro de uma lotação. Este me deixou em paz, mas mal tendo eu dado dois passos, dei de encontro com outro, "São Sebastião?! São Sebastião?!", parecia uma doença, pois s6 'sabiam dizer 'São Sebastião?! São Sebastião?!" e novamente menti para que ele me deixasse ir. A situação em que eu estava me levou a pensar matematicamente: Lá estava o ônibus a seis passos de distancia. Agora divida o numero de passos que eu dei por cada momento em que eu parei e eis que o resultado será igual ao número de cobradores de lotação que me gritou "São Sebastião?! São Sebastião?!", sendo que o último me puxou pela gola da camisa no momento em que eu entrava no ônibus perguntando a mesma coisa: "São Sebastião?! São Sebastião?!". Estava constatado, era realmente uma doença, pois como pode alguém me puxar de dentro de um ônibus que vai para São Sebastião ainda ter dúvidas? Mas mesmo tendo feito uma pergunta tão idiota não subestimei sua inteligência a ponto de mentir novamente que não iria para São Sebastião, mas disse-lhe que não queria ir de lotação e dei motivos mil para não querer ir: Disse que odiava o fato de eles odiarem quebra-molas; Que só tocavam música sertaneja, funk, axé ou balanço em volume altíssimo; Que eles desafiavam a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço: Que eles fazem o itinerário durante o trajeto; que a mãe dele era feia; Que o pai dele era corno... Pois não adiantou de nada! O rapaz estava determinado a me convencer por meio de falsas vantagens a embarcar naquela canoa furada, entre elas a de que a lotação é o transporte mais seguro depois do avião! E me garantiu jurando de pé junto que é mentira do Detran que a maioria dos acidentes entre transportes públicos ocorre com lotações.

Como não tenho muita força de oposição acabei fingindo que fui convencido. O cobrador então apontou para uma direção onde estava a lotação na qual ele trabalhava, que normalmente fica a quilômetros da rodoviária e eu seguia então em direção a lotação quando um outro novamente me abordava, "São Sebastião?! São Sebastião?!" Já estava cansado dessa obcecada devoção pelo santo e respondi impaciente, "sim!" Ele me aponta uma outra lotação, quando sigo em direção a essa outra lotação o outro cobrador que já havia me indicado a lotação da qual eu me desviei fez como o operário do poema de Vinicius e disse: "Não! É pra você pegar aquela lotação", ao que o outro respondeu: "Deixa o garoto! Se ele quer ir naquela, então ele vai!" Começaram a discutir como se eu fosse uma celebridade do futebol, mas enquanto discutiam tentei sorrateiramente seguir em direção ao ônibus quando "São Sebastião?! São Sebastião?!", outro com síndrome de cobrador, "onde?!" disse eu querendo ir embora logo. Entrei na lotação e o meu sorvete, já derretido, joguei fora, pois seria melhor perder o sorvete daquela forma do que de outra.

Luis Próton é desenhista·afamado por estas plagas sansebastianenses e este é o número dele para eventuais reclamações - 3335-0527.

Março de 2007.

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