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Manifesto da Bagunça - Parte I


Senhores pais, mestres, professores antiquados de geografia, fifis, otários, vacilões, patrícios pós-romanos e patricinhas de todos os credos, não-credos, gostos, raças, etnias, culturas, classes e de todas as ordens: engulam, cuspam, e engulam de novo suas palavras injuriosas! Há incontáveis tempos, desde a mais remota antiguidade, dezenas de centenas de milhares de pessoas, como eu, são criticadas por seus hábitos de organização não muito padronizados. Ao longo de eras vimos sendo oprimidos, incompreendidos, rotulados e forçados a adotar os hábitos de organização antiquados desses que nos oprimem (especialmente a nós que ainda não dispomos de liberdade jurídica, econômica, nem de pensamento, nem de ir à esquina, nem de comer jujuba, nem de existir, nem de... ).

Mas nós não aceitamos mais essa condição! A retilineidade não é sinônima de organização! Livros em ordem de tamanho não é sinal de organização! Cuecas e meias separadas por cor e tamanho, e camisas engomadas e em degradê não são, porcaria!, sinal de organização. E, principalmente, padrões alternativos e paralelos a eles não são, necessariamente, desorganização. Vocês, vermes imundos, com seus preconceitos e idéias formadas, vem atrasando significativamente o futuro do País! Quiçá do mundo! E, em especial, quando denominam de bagunceiros os adeptos dessas práticas.

Senhores, creio que tal injúria deve ser extinguida de imediato de nossos dicionários. Expressões do tipo: "Aí. deve ter até rato!"/ ou: "Cuidado para uma cobra não te picar!"; ou simplesmente "Se você achar alguma coisa aí nessa BAGUNÇA!" devem ser medidas com mais cuidado.

É evidente que nós podemos achar qualquer coisa que quisermos em nossos tipos atípicos de organização. E se, eventualmente, não achamos uma caneta ou aquele CD da Legião, isso é uma fatalidade que pode acontecer com qualquer dito organizado. Se vocês quiserem, façam a experiência, da qual eu sei que não vão se esquecer, embora talvez seja pedir demais para suas mentezinhas pequenas e quadradas: ousem, quando tiverem a oportunidade, cruzar o sumo santuário e antro do modo de organização excêntrico: o quarto de alguém com tais características. Logo no primeiro contato, eu sei, lhes será um choque de proporções absurdas. Toalhas penduradas em quadros, deveres de casa sobre a cama, livros pelo chão fazendo verdadeiras escadas giratórias, papéis amontoados e saltando das prateleiras, cobertores desdobrados misturados com meia dúzia de CDs e uma mochila aberta, tendo parte do seu conteúdo desmascarado, ou - por que não dizer - derramado, esparramado... Roupas desdobradas e amontoadas, violões emergindo de buracos em que você imagina:"como é que ele entrou ali?". e por aí seguem as visões dantescas. E até admito o termo "visões dantescas", pois é uma mera forma de me fazer entender pelos vis possuidores de mentes arcaicas. Mas bagunça, não!

Na verdade, os cobertores estão desdobrados não por descuido ou desleixo, mas por uma mera questão da estética que reproduz um ninho aconchegante, acolhedor... E, por outro lado, mesmo nas noites mais frias você terá a certeza de que o seu cobertor ainda conserva o calor da noite anterior, o que lhe poupa muitas horas de frio. Pesquisas científicas realizadas em Oslo, Noruega, provaram que quando o cobertor de fato se aquece, você já está no oitavo sono e quando ele alcança a temperatura ideal, geralmente está na horta de acordar. Portanto você dorme mal e tem de acordar justamente quando o cobertor está no ponto; você tende a tentar fazer valer a pena as penosas horas tentando aquecer o cobertor e a reação imediata é tentar prolongar este momento e aí, em tendo sucesso, acaba por perder o colégio e aquele trabalho de geografia valendo um notão, ou chegar atrasado ao trabalho e por aí vai e, em sendo frustrado, você vai ficar o dia todo com remorsos ou sentindo falta de algo. E tudo isso porque você achou que ficaria mais, digamos... Padronizado! Pois na verdade, e aí esta uma coisa que eu deveria ter dito desde o começo: quanto maior a organização de uma pessoa, tanto maior o seu nível de mediocridade, sendo que ela é fruto e reflexo, primeiro de uma acentuada fraqueza de mente e de espírito, tsndo que a pessoa em tais condições, dotada também de uma enorme insegurança, não consegue se adaptar e se sentir segura em um ambiente tão mais complexo, chegando a sentir-se ameaçada e procurando assim sempre os padrões e a retilineidade e, de preferência, a simetria, o degradê ou simplesmente a ascendência e descendência. Enfim, a pura mediocridade, ao passo que a bagunça, ou organização excêntrica, é muito mais uma sofisticação, um depuramento, uma evolução. E olha que eu ainda estou no quesito cobertor...



[Continua]

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