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Conto de fada

Era uma vez, numa terra bem distante, onde morava uma linda e doce menina que sonhava em ser alguém muito importante. Era muito inteligente e queria estudar tudo. Aprendeu a ler desde cedo com as amiguinhas, filhas do patrão de seu pai que apareciam de vez em quando na roça para ver a colheita. Sua família era muito humilde e não tinha condições de comprar livros ou até mesmo de colocá-la em uma escola, e no lugar não existia nenhuma. Então ela lia os rótulos das latas de óleo de cozinha, das embalagens de açúcar e de arroz quando seu pai fazia a pequena compra para o consumo daquela família tão grande, perdida no meio do nada. Mas aquela menininha sempre sonhava que tudo ia dar certo e que ela sairia daquele lugar fantasmagórico onde nada acontecia. Sonhava em estudar e se casas com um homem importante assim como ela já se sentia e que ia ser muito feliz. Eram apenas sonhos. Sua família era muito grande, ela tinha dez irmãos e seus pais trabalhavam muito para sustentá-los, eles não tinham estudo e fizeram tudo que puderam para a felicidade dos seus filhos. A vida naquele lugar não era fácil, mas ia seguindo entre trancos e barrancos. A doce menina era a filha mais velha e sempre preocupada com a falta de condições do lugar. A pequena cresceu e virou uma moça formosa e ainda morando no mesmo lugar humilde e sem os estudos que sempre sonhou. Mas ela continuava sonhando. Ela dizia que sonhando se sentia nos seus próprios sonhos e assim vivia menos mal. Um certo dia, apareceu um rapaz muito distinto e agradável que alimentou todos os seus sonhos de viver uma boa vida. Seus pais não gostaram muito da idéia de sua filha querida ter se encantado por ele, mas nada fizeram por enquanto. Os dois começaram a namorar, mas contra a vontade de seus pais que ficaram de olho no rapaz. Depois de um tempo ele se mostrou muito romântico e dedicado, então os pais deixaram os dois em paz, acreditando que as intenções do rapaz eram realmente verdadeiras. Tudo estava correndo as mil maravilhas já fazia um ano e o pai disse que estava na hora de casar os dois. O rapaz aceitou sem problemas e começaram os preparativos. Aquela moça ingênua e feliz mal sabia o que a estava esperando nos próximos longos anos de sua vida, mal sabiam que a sua tão esperada felicidade não ia durar muito tempo. O casamento se deu, e foi tudo lindo mesmo naquela família tão humilde e sem recursos nenhum. No dia do casamento a noiva não entendia os olhares constantes de seu marido, achava que era amor. E no dia seguinte ela não demorou a descobrir o significado daqueles olhares misteriosos. O homem por quem tinha se apaixonado não era mais o mesmo, no primeiro dia de lua de mel. Ele já começou bem cedo, ao acordarem, e lhe ditou quais eram as regras que ela tinha que seguir dali em diante. Naquele momento, o seu mundo caiu, e ela ficou sem chão. Ela não podia mais sair de casa sem ele,não podia nem mesmo falar com outros rapazes, mesmo os amigos de seu pai. Aquela moça sonhadora, e tão feliz em seus sonhos, começou a murchar, e, em plena lua de mel, os seus dias eram tristes e longos. Após um ano ela já não tinha mais direito a sonho algum. Vieram as agressões físicas, verbais e a primeira gravidez. Como sonhadora, ela acreditava que, assim que o filho nascesse, ele mudaria, e a esperança se fez novamente em seu lindo rosto sofrido, mas foi só mais um sonho. Tudo ficou pior. Depois de um tempo, o bebê já crescido, as agressões continuavam. E mais uma criança, concebida entre tapas e beijos forçados. Sua vida de sonho virou um tormento ainda maior. Com a barriga enorme, ele, o seu digníssimo marido, a deixava sozinha e sem nada para se alimentar, a não ser o leite que seus pais traziam da roça, onde tinham uma vaquinha. Na frente de seus pais, ela se mostrava a mulher mais feliz do mundo, para não fazê-los sofrer, pois sua filha querida e amada tinha que ser feliz. A barriga pesava muito e ainda tinha o filho mais velho para ela cuidar. Quando era noite o marido chegava bêbado e pedindo o jantar (qual?). E lá vinham novamente as agressões. Muito tarde da noite, ainda acordada e chorando, pensava em seus sonhos, todos tão lindos. "O que fiz de errado?!" A criança nasceu e as coisas pioraram. Um certo dia o filho mais velho ficou doente e ela teve que levar os dois para o hospital. Não tinha com quem deixar o outro. Por lá passou o dia todo com o filho internado. No final da tarde, estava de volta. Mas, antes de chegar a sua casa, ouviu risadas e, quanto mais se aproximava da casa, mais as risadas aumentavam. Enfim chegou e abriu a porta. Deu de cara com o sujeito que se dizia seu marido, com outra mulher, deitados e abraçados no sofá. Era sua vizinha. A cena foi cruel para aquela doce mulher de olhar triste e profundo. O sofrimento e a raiva pareciam que iam pular de seus olhos, e ao mesmo tempo o alívio se fez para seu coração e também para seu corpo. Naquele momento ela tomou a decisão mais importante de sua vida. Já estava cansada de sofrer por alguém tão ruim e tão baixo. Entrou sem dizer uma palavra, pegou tudo que era dos filhos e de seu uso pessoal (pouca coisa), colocou em uma sacola e saiu. Seu irmão mais novo estava por perto e, com a ajuda dos vizinhos, ele a levou para a casa de seus pais, que ficaram chocados. Aquela linda mulher sonhadora, que há muito tempo só tinha pesadelos, passou a sonhar novamente. Nunca foi fácil ser mulher. Somos o ser humano mais capaz na face da terra, muito mais inteligentes do que esse tipo de gente, que acha que as mulheres foram feitas para o uso pessoal, como meros objetos.Não podemos permitir que ninguém nos faça sofrer dessa forma. A mulher tem muito poder, algumas não sabem. Mulheres, lutem pela felicidade, pela sua liberdade, pela sua vida! Esse texto é uma história real. A mulher é a base do mundo!

Nanah

"desaltoalto", julho de 2007, p. 3.

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