linda dama dos cabelos de fuligem
flor insana dos espaços do planalto
traz alívio ao meu pensamento virgem
crava o escopo minha língua no cobalto
mesmo inédita indevassável e crua
bela dama das olheiras de carlitos
vem cavalga-me longe da estepe fétida
vem pilota-me no espaço não restrito
bela lady teu nariz são sinagogas
torre límpida cortada no horizonte
com os espíritos da noite dialogas
mini-luas tua bunda minha fonte
que jazida de estrelas teu discurso
vexatória é a vitória sobre o fraco
se sucumbo então oh que nó górdio
mas teu beijo recupera-me a coragem
***
o pródigo
capítulo hum
perdão mamãe eu gastei todo o dinheiro
***
o vento no ouro dos cabelos
da moça de sol e swing
e eu perguntando ao meu id
idiotices e coisas
crimes na noite sangrenta
e a moça seca os cabelos
ou descolore os pêlos
na pura prata da pele
mais de mil mortos na noite
mais de mil noites insones
eu olho a moça de longe
eu um monge sem mosteiro
e a moça seca os cabelos
e a moça pinta-se ao espelho
e a moça é linda iludida
atrás do batom vermelho
agora Bloch ou é rímel
e eu penso na ilha de cuba
pegou da meia em meio
a um devaneio meu sobre Jung
agora krista na axila
e monange e avon
eu penso no haiti com anseio
vestido preto e crayon
agora pronto está pronta
foram três quartos de hora
as minas de diana estouram
a moça está pondo o brinco
***
minha amada definitiva qual a cor dos teus cabelos?
quando vou tê-los
entre os dedos
e que choupana ou castelo
te abriga do frio quando é noite
e te protege do calor quando o sol se faz a pino?
menino
das ruas mais pobres da bahia
eu ia
sacrificar minha vida
pela tua vida
se tu assim ordenara
senhora dona do meu querer e opinião
o meu amor não arrefece
desce
ou poucochinho do teu andor e toca com teus dedos
nos dedos
da minha mão que por ti teço
no tear da folha em branco teu louvor e como um selo
eu o gravo a ferro e fogo na memória dos meus pêlos
durante um tempo tão grande que a eternidade recolheu-se
envergonhada
minha amada definitiva
se eu conhecesse a estrada
que leva à tua aldeia
tua vila tua taba
eu largava meu emprego minha mãe
e esta casa
e esta casa
e esta casa
***
médio-e-ocre
o poeta
quase poeta
quasímodo
quase alça vôo
mas pesa
não pesa tanto
a ponto
de permanecer
na terra
fica então nestes estreitos
não sobe ao céu condoreiro
nem verme desce ao torrão
quase poesia
a poesia
estica em vão o pescoço
espicha inutil-mente
o olhar dolente indolente
pensa que vê nada vê
quase cacimba
água turva
curva teu crânio ser-vil
cala teu lábio selado
vegetação do cerrado
tosca qual cristo em mário
cravo meu olhar no espaço
não passo desse
compasso
em que me vou ritornello
anelo sair do sonho
mas vivo só desse anelo
***
bela é a tua alma moral
mais bela é a alma da cortesã
belo é o seu lixo cultural
mais belo o erro léxico da mão sã
belo é o teu discurso político
mais belo o sex-appeal da prostituta
belo é o teu non-sense apocalíptico
mais belo o temor religioso de uma puta
bela é a tua verve ética
mais bela é a ignorância da teúda
bela é a tua entonação fonética
mais belo o sotaque com que a mundana me saúda
belo é o teu olhar aristocrático
mais belo o cílio negro da ordinária
belo é o teu sorriso prático
mais belo o sorriso democrático da perdulária
belo é o teu porte altaneiro
mais belo é o batom da boca da bandida
belo é o teu aparte zombeteiro
mais belo o nome feio na boca da mulher da vida
***
meu medo de você na densa noite escura
dorme neném que a cuca vem pegar
meu medo da sua face dura
esculpida com vigor no mármore de carrara
eu pego as criancinhas para fazer mingau
meu medo dos seus olhos sobre a minha travessura
meu medo da tua dura ternura
meu medo da tua verve pura
boi boi boi boi boi da cara preta
meu medo do teu olho sobre a minha mão impura
e minha mão furtiva fugindo à captura
forjando a ruptura
que nunca se condensa
enquanto a bruxa má está analisando a espessura
da falange de joãozinho
e o gigante e o fantasma e a criatura
e o pirata à procura
e a tortura
do meu sono atormentado pela culpa que supura
da minha paz caricatura
do monstro que a moça loura representa quando jura
que não me fará mal algum
e até talvez possua a cura
pra amainar a rigidez
da minha picadura
mas eu só penso em tua fúria
só vejo a tua amargura
a romper minha armadura
e eu como como um tolo a maçã envenenada
da tua lisura
***
ave rara
em te conhecendo
quem te não amara?
alma clara
quem te encontrando
o mais não detestara?
***
marcado está meu coração ó mestre
como escapar à dor...
mas se esta mesma dor me faz ser forte
quero ser super
ser superior
deserto está meu coração ó mestre
sem rei e sem senhor...
meu coração acha que basta-se a si
silêncio e solidão
ao meu redor
errante vai meu coração ó mestre
sem porto e sem navio
não tenho âncora... nem vento... nem vela...
meu coração é quase
um cão vadio
o caos põe ordem no meu coração ó mestre
nada me seduziu
gasta a palavra diz um quase nada
meu nome é
desvario
***
agora a alma vêm-me a boca como vômito
agora eu penso um pouco esta sandice
agora olho os sapatos de esta moça
enfileirados sobre o chão suas mentiras
depois reprimo um tanto o choro baixo
depois de um corredor vem vários outros
depois de cada esquina e cada beco
mais becos e esquinas tão somente
e após passo a odiar com veemência
ridículo ponteiro de segundos
sorvendo o tempo ausente gota a gota
martela minha mente e é madrugada
porém se é tardezinha é a mesma lava
que me consome se a manhã é fria
ou se a manhã é quente ou se uma brasa
me queima o coração neste sem tempo
depois que o sono vence-me a vigília
paredes e telhados quais borrão
a mente empedernida é mancha vária
no outro dia ainda não estão são
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