rompo a madrugada escura em claro
mas é claro a escuridão da treva negra
venda-me o entendimento e a inconseqüência
do ato nesta noite beira abismos
e desafia os astros ao forjar azares
ao sêmen que derramo sobre a terra dura
que a muito custo emprenha-se e cujo fruto oblíquo
não mata a minha fome de infinito
não basta ao meu tesão da imensa teta
da poesia em minha boca suja
de arqueiro cego e oh psiquê
meu coração diabo ignara glândula
meu coração meu deus e a minha glande
meu coração depósito de esterco
da limária humana irmã da minha
insana animalidade emergente
meu coração meu deus e meu escroto
e as pálpebras que pedem o justo sono
não sei quais são os sonhos que me esperam
no afã de acrisolar meu pensamento
e a madrugada escura em claro rompo
***
sobre abril
teu sorriso colou-se aos meus lábios
araldite durepoxi superbonder
ando agora a contê-lo o sorriso
mas quem disse que o olhar o esconde?
tua imagem acoplou-se-me à pele
circuncisão tatuagem cicatriz
ando agora a espantá-la a imagem
grande é o peso de me achar feliz
teu olhar grudou-se-me à retina
urucum rímel sombra pau-brasil
ando agora a evitá-lo o olhar
para não morrer no trânsito de abril
teu suor perpegou-se-me ao tato
siameses almas gêmeas baião de dois
ando agora a transpirá-lo o suor
vida antes de você... e depois
***
o vento seco
a alma seca
a calma aparente de um crente de um budista
prenunciando o estado
de (-s-) graça
e a fuga da garganta do abismo
que chamará outro abismo
ao sabor do deus-dará
o ventre seco
a ama-seca
o céu
o seio
o cio
o rio
secos
o coração gelado sorvete chupado
o vinho seco
a ceia
o século
o ósculo iscariótico na tua face de ácido
talhada em pedra-sabão
o tempo
seco como bola de futebol de salão
***
ouço ancestrais blues womens
no teu contralto contrito
saco meu colt meu signo
cravo em teu corpo negróide
dama domai-me domina
diva
oh domesticai-me
oh tatuai-me em teus
plegares anulares
oh devastai-me a libido
oh tormenta e calmaria
deusa de origem insuspeita
depõe na minha tua glândula
dispõe
diz põe
diz paul
diz paulatinamente
a verdade
no planalto sem montanhas
me fotografam teus flancos raros
sou tuas ancas poderosas
tua miraculosa boca
discursa para o cosmos
as metáforas que secarão o lago
(dispensado está, ó baco, teu auxílio,
que só nela a embriaguez é urgente,
exata)
todas as estrelas bebem nela o seu lume
e a noite rouba dela o seu negrume
e desliza como sombra
sobre o córrego e sob a ponte
sua elegância de deusa
posta na garganta violoncélica
noturnos de chopin
suítes de elomar
o vento bebe
em seus cabelos
sua música
sua boca é o luar luar luar
***
trombose na minha língua após teu sexo farto
e o membro com reumatismo meu dedo nunca foi casto
e a correnteza a fluir do teu íntimo devasso
e o som já característico do meu no teu ventre de aço
e o pássaro da juventude preparando o nó do laço
***
o tempo congelado em velhas fotos
a terra gira embaixo dos meus pés
o mar a vomitar-se pelas praias
num frêmito constante assim eu mesmo
queria receber nas mãos indóceis
o vômito das minhas próprias vísceras
quem sabe esvaziando-me de mim
o engulho acabaria de estar vivo
e compulsoriamente (ou é covardia?)
compactuar com o crime diuturno
que a humanidade bárbara pratica
contra minha humanidade espartana
ou não é nada disso apenas somos
a raça acasalando-se e a espécie
tentando se manter viva sobre o mundo
ó dor ó dor ó dor ó dor ó deus ó dia
triste dia de domingo se amanhã
já será segunda feira sobre o abismo
e estou tão inclinado minha linda
e estou tão inclinado a me atirar
***
parece um filme da sessão da tarde
e arde como a fornalha de todos os infernos
ou antes uma canção de mineiros
melosa como um suco de morangos
melhor
umbuzada porém densa
acordar do teu lado é que é o ouro
tua cama tem cheiro de alvura
a manhã me será linda
inda que chova ácido meu deus
parece a curva do tempo numa casa sem porta ou janelas
e eu e eu e eu e eu e eu e eu
e ela
***
o flerte com a decadência
o tempo não me dá ciência
o tempo fez de mim ciborgue
me largue tropa de serpente
repente rap cordel mote
mata-me ó vida mas com rapidez
que eu te quero ó morte vinda de uma vez
que eu não quero o tempo a me marcar a tez
enclausurado na rudez do mundo
todo o cabelo
já não nazireu
deitei de sê-lo
quand'ele se me perdeu
as claras luzes dos filósofos antigos
possuem apenas o poder de me cegar
***
estava escrito nas estrelas
na pele de cada animal
e em cada círculo concêntrico
autêntico
da tua digital
está escrito nas estrelas
na íris de cada qual
na minha pele africana
baiana
timbale de carlinhos brown
está escrito nas estrelas
nas folhas dos pés de paus
na pele dos jenipapos
currupaco
asas de arara surreal
está escrito nas estrelas
no bronze do anel real
na casca dos mil coqueiros
altaneiros
do baiano litoral
está escrito nas estrelas
nalgum escudo medieval
de um cavaleiro andante
galante
dom quixote coisa e tal
estava escrito nas estrelas
na mão de deus e afinal
na cútis da tua vulva
na pele dos teus mamilos
teremos um amor tranqüilo
e nossos filhos
brincando em nosso quintal
***
orgia
de neurônios no alfa/beta
ainda que eu falasse a língua dos anjos
e dos homens
e ainda que eu falasse a língua dos demônios
que povoa
miríades em
minhas noites
froidiunguianas
meta/lingüística
poetautista
euroafroameríndio
mérde
ainda que o verbo se fizesse em minha carne
como dar-te a exata forma
ou dizer-te a exata frase
que te conteria
maria
na ilusão de estar/ser vivo
a imagem do meu ser/estar
amplia tua/minha mesma imagem
ao infinito
num out-door esquizofrênico
hemisférico
mas só enxergo meu umbigo brasileiro
e basta-me a poesia que sobe
como fumo
do incensário
posto entre o teu/meu olhar
totais
sei de tudo que não quero
tenho incríveis lapsos
de lucidez
sou formidável
habito esta cápsula/casulo
sou todas as fases da lua
sou sua face escondida
sou uma frase mordente
em um noturno de bach
e eu sou lindo e incapaz
e eu sou forte e inútil
sou sábio e infeliz
se longe do teu nariz
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