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Antologia poética de Paulo Dagomé - Parte 5 de 7

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nada de especial com o nosso amor

a não ser

mulher cinematográfica

teu monólogo na noite em espiral

onde o tempo não tem horas

e o espaço é onde estiver a tua voz

e o teu perfume



nada de alucinante

senão teu beijo inteiriço

se não teu olho mortiço

mulher beemedábliu scarpin



nada de novo com o nosso amor

senão que quero fazer equilíbrio

por sobre o precipício onde deparo

amarga tua voz aristocrática

mulher hipódromo

fórmula hum



pentium ballet



***



Deusa absoluta do meu coração cigano

não posso causar-te dano

maior que o de te amar

com o amor absoluto

frutoda tua sensibilidade táctil

ou monstra poderosa detentora de minha libido



estende tua mão e me liberta

da fúria com que te amo aos borbotões

abre de par em par os teus portões

e põe-me no olho da rua da tua vida

pra que eu viva

e que tu vivas

ausente do desengano que me cerca

e agrega a minha alma vagabunda

a dor da mais absoluta inércia

oh verdadeira

que tu és senhora minha e amor meu

mas ainda pela manhã virão os homens

e cortarão a luz da nossa casa

pois tudo que eu tinha eu gastei com pinga



***



no olho do cu do ciclone

deslizo minha insanidade

eu nunca fumei unzinho

eu nunca cheirei

eu nunca noiei

eu nunca enchi o cu de cachaça

mas a culpa é como a sombra

nem nas noites me escondo

agora que colocaram

esta lâmpada de mercúrio

na frente da tua casa



***



sulcando na terra dura

busca ouro o tal rapaz

se ele plantasse semente

talvez encontrasse a cura

mas jura que é competente

nisso que pensa que faz

o arado preso à corrente

presa ao próprio calcanhar

guia-o com tal lisura

no que pensa ser guiar

perdido entre as próprias turras

com fantasmas dalém-mar

que vem caprichosamente

das terras de portugal

de frança de outros lugar

tirar-lhe o pouco de paz

nas suas noites de insônia

o que supõe armadura

é arma branca fatal

no dentro do rim da gente

fígado de prometeu

e a defesa obsoleta

que o rapaz entreteceu

achando que achava ouro

ouro nenhum concebeu

nem parente ou aderente

nem família ou profissão

que isso de tecer palavra

como aranha paciente

isso num lhe deu camisa

e o frio é tão inclemente

nos planaltos de Brasília

que ele ficou doente

d busca da própria cura

rapaz tão inteligente

tão amável tão decente

incapaz de ser feliz

ao lado d sua gente

sempre um passo adiante

mas nada na sua frente

em busca da própria cura

e d cura da sua gente

uma gente pura e sarada

só ele sim um doente

lavrando na pedra dura

buscando ouro coitado

morreu de garganta seca

morreu de olhos inchados

morreu com a caneta seca

de tanto poema errado

morreu só morreu sem

morreu mortinho matado

bebendo do próprio sangue

do pulso entrecortado

e o sangue não era azul

que decepção coitado

era um sangue muito do ruim

de um vermelho aguado

e as aves vieram do céu

que ele nem foi enterrado

e comeram o seu corpo

e a caveira diz a lenda

serviu pra fazer um pente

foi vendido no mercado

e dizem que um deles foi

oh ironia do fado

parar nas mãos da donzela

que ele desqualificado

viu ir morar no recanto

dama da sociedade

mas isto já é outra história

talvez seu maior pecado

talvez o ouro que ele

não via ali do seu lado



***



findo o reinado da dominação notório

fica a todos os povos reinos e nações

que eu ficarei faminto e estropiado

que eu ficarei mendigo inalojado

que eu ficarei instinto intuição

mas não te deixarei ó minha deusa

mil vezes adorada liberdade



finda a heresia do matriarcado posto

que a nos convenha dadas as vantagens

que eu fique vivo onde fora figurante

que eu seja lido onde outrora coadjuvante

que eu out-door onde fui vis polegadas

mas não te deixarei minha senhora

dez mil vezes adorada liberdade



***



virgem



na noite sangrenta do teu mênstruo virginal

navegam caravelas de luxúria bacanal



na noite escarlate um fio de sangue carmim

percorre meu baixo ventre num galope de patins



peles-vermelhas de dizem ser semente de urucum

própria prum tempo de guerra

galgar meu teu corpo nu



rastros de sangue no açoite

das tuas mãos sobre o dorso

do negro negrume escuro

do meu nesta noite corpo



na noite do teu corpo estanque navegam veleiros calmos

meus dedos tredos de medo arremedo cadafalso

falo a língua dos tambores quando em tua língua falo

falo a linguagem dos anjos quando em tua virgem calo



***



florestas de metal

sobre os telhados

nos dão seu fruto letal



florestas de aço

ácido... assédio...

pássaros de metal



e tédio



***



fazer de minha dança poesia?

fazer da minha poesia doença

fazer da minha crença poesia

fazer da minha poesia crença



fazer da cura minha poesia?

fazer da minha poesia cura

fazer da minha loucura poesia?

fazer da minha poesia loucura



fazer da minha tara poesia?

fazer da minha poesia tara

fazer da minha cara poesia?

fazer da minha poesia odara



***



maria não entende

que quanto me domina

mina minha mina

minha mina mina



maria não se toca

que quanto me sufoca

mata minha meta

minha meta mata



maria vangloria-se

e torce a minha rota

e castra minha crista

e minha crista castra



não se te dá maria

que sou matéria morta

que a flor moral já mofa

já mofa sim já mofa



maria oh maria

sou o apátrida das horas

não meça minha força

teus polegares de moça



e por fim minha maria

não há remissão pra mousse

se seu dessa massa insossa

mais um messias sem raça



***



minha dor africana de porões esmaecidos

minha dor latino-americana

minha dor baiana

dor severina

dor dor



minha dor pessoana

é só a ausência da dor

como uma ausência de alegria

no fingimento do amor



minha dor gregoriana

como que hipócrita dor

mística porém mundana

engana pecado e criador



minha dor soteropolitana

pelourinho salvador

orixá-apostólico-romano

católico-apostólico-orixá



minha dor tupy-guaranyana

minha yoruba dor

minha dor tupã minha dor alá

soberana minha dor

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