Channel
nada de especial com o nosso amor
a não ser
mulher cinematográfica
teu monólogo na noite em espiral
onde o tempo não tem horas
e o espaço é onde estiver a tua voz
e o teu perfume
nada de alucinante
senão teu beijo inteiriço
se não teu olho mortiço
mulher beemedábliu scarpin
nada de novo com o nosso amor
senão que quero fazer equilíbrio
por sobre o precipício onde deparo
amarga tua voz aristocrática
mulher hipódromo
fórmula hum
pentium ballet
***
Deusa absoluta do meu coração cigano
não posso causar-te dano
maior que o de te amar
com o amor absoluto
frutoda tua sensibilidade táctil
ou monstra poderosa detentora de minha libido
estende tua mão e me liberta
da fúria com que te amo aos borbotões
abre de par em par os teus portões
e põe-me no olho da rua da tua vida
pra que eu viva
e que tu vivas
ausente do desengano que me cerca
e agrega a minha alma vagabunda
a dor da mais absoluta inércia
oh verdadeira
que tu és senhora minha e amor meu
mas ainda pela manhã virão os homens
e cortarão a luz da nossa casa
pois tudo que eu tinha eu gastei com pinga
***
no olho do cu do ciclone
deslizo minha insanidade
eu nunca fumei unzinho
eu nunca cheirei
eu nunca noiei
eu nunca enchi o cu de cachaça
mas a culpa é como a sombra
nem nas noites me escondo
agora que colocaram
esta lâmpada de mercúrio
na frente da tua casa
***
sulcando na terra dura
busca ouro o tal rapaz
se ele plantasse semente
talvez encontrasse a cura
mas jura que é competente
nisso que pensa que faz
o arado preso à corrente
presa ao próprio calcanhar
guia-o com tal lisura
no que pensa ser guiar
perdido entre as próprias turras
com fantasmas dalém-mar
que vem caprichosamente
das terras de portugal
de frança de outros lugar
tirar-lhe o pouco de paz
nas suas noites de insônia
o que supõe armadura
é arma branca fatal
no dentro do rim da gente
fígado de prometeu
e a defesa obsoleta
que o rapaz entreteceu
achando que achava ouro
ouro nenhum concebeu
nem parente ou aderente
nem família ou profissão
que isso de tecer palavra
como aranha paciente
isso num lhe deu camisa
e o frio é tão inclemente
nos planaltos de Brasília
que ele ficou doente
d busca da própria cura
rapaz tão inteligente
tão amável tão decente
incapaz de ser feliz
ao lado d sua gente
sempre um passo adiante
mas nada na sua frente
em busca da própria cura
e d cura da sua gente
uma gente pura e sarada
só ele sim um doente
lavrando na pedra dura
buscando ouro coitado
morreu de garganta seca
morreu de olhos inchados
morreu com a caneta seca
de tanto poema errado
morreu só morreu sem
morreu mortinho matado
bebendo do próprio sangue
do pulso entrecortado
e o sangue não era azul
que decepção coitado
era um sangue muito do ruim
de um vermelho aguado
e as aves vieram do céu
que ele nem foi enterrado
e comeram o seu corpo
e a caveira diz a lenda
serviu pra fazer um pente
foi vendido no mercado
e dizem que um deles foi
oh ironia do fado
parar nas mãos da donzela
que ele desqualificado
viu ir morar no recanto
dama da sociedade
mas isto já é outra história
talvez seu maior pecado
talvez o ouro que ele
não via ali do seu lado
***
findo o reinado da dominação notório
fica a todos os povos reinos e nações
que eu ficarei faminto e estropiado
que eu ficarei mendigo inalojado
que eu ficarei instinto intuição
mas não te deixarei ó minha deusa
mil vezes adorada liberdade
finda a heresia do matriarcado posto
que a nos convenha dadas as vantagens
que eu fique vivo onde fora figurante
que eu seja lido onde outrora coadjuvante
que eu out-door onde fui vis polegadas
mas não te deixarei minha senhora
dez mil vezes adorada liberdade
***
virgem
na noite sangrenta do teu mênstruo virginal
navegam caravelas de luxúria bacanal
na noite escarlate um fio de sangue carmim
percorre meu baixo ventre num galope de patins
peles-vermelhas de dizem ser semente de urucum
própria prum tempo de guerra
galgar meu teu corpo nu
rastros de sangue no açoite
das tuas mãos sobre o dorso
do negro negrume escuro
do meu nesta noite corpo
na noite do teu corpo estanque navegam veleiros calmos
meus dedos tredos de medo arremedo cadafalso
falo a língua dos tambores quando em tua língua falo
falo a linguagem dos anjos quando em tua virgem calo
***
florestas de metal
sobre os telhados
nos dão seu fruto letal
florestas de aço
ácido... assédio...
pássaros de metal
e tédio
***
fazer de minha dança poesia?
fazer da minha poesia doença
fazer da minha crença poesia
fazer da minha poesia crença
fazer da cura minha poesia?
fazer da minha poesia cura
fazer da minha loucura poesia?
fazer da minha poesia loucura
fazer da minha tara poesia?
fazer da minha poesia tara
fazer da minha cara poesia?
fazer da minha poesia odara
***
maria não entende
que quanto me domina
mina minha mina
minha mina mina
maria não se toca
que quanto me sufoca
mata minha meta
minha meta mata
maria vangloria-se
e torce a minha rota
e castra minha crista
e minha crista castra
não se te dá maria
que sou matéria morta
que a flor moral já mofa
já mofa sim já mofa
maria oh maria
sou o apátrida das horas
não meça minha força
teus polegares de moça
e por fim minha maria
não há remissão pra mousse
se seu dessa massa insossa
mais um messias sem raça
***
minha dor africana de porões esmaecidos
minha dor latino-americana
minha dor baiana
dor severina
dor dor
minha dor pessoana
é só a ausência da dor
como uma ausência de alegria
no fingimento do amor
minha dor gregoriana
como que hipócrita dor
mística porém mundana
engana pecado e criador
minha dor soteropolitana
pelourinho salvador
orixá-apostólico-romano
católico-apostólico-orixá
minha dor tupy-guaranyana
minha yoruba dor
minha dor tupã minha dor alá
soberana minha dor
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