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24 de setembro de 2006. Estádio Mané Garrincha. Brasília. Milhares de pré-adolescentes, adolescentes e adultas - estas últimas ainda tão idiotas quanto adolescentes – faziam uma coreografia familiar, com gravatinhas roxas no pescoço, que eram lembrancinhas do show em que estavam. Era o aclamado grupo mexicano Rebeldes, tão ruim quanto suas próprias dublagens e que, sob o código de RBD, estendia seu império de alienação através de numerosas franquias e participações gigantescas em programas dominicais de toda a América Latina.

Mas naquela noite de culto à idiotia e, por que não dizer, ao corpo e à pecaminosidade, sendo que também muitos meninos ali foram apenas para ver as cantoras em suas mini-roupas e decotes (do que não os culpo. Aí, já reparou nas pernas daquela Roberta... Deus meu, aham, digo... Que sem-vergonhice, né?). Mas como dizia eu, naquela noite de vilezas, algo de extraordinário aconteceria, soturnamente primeiro, com estrondo depois. Afinal, quem imaginaria que no meio de tantos ingressos vendidos para as camadas mais idiotizadas da população, três deles teriam sido vendidos a três adolescentes que se autodenominavam NERD’s? Ninguém! Até por que estes três estavam devidamente caracterizados e uniformizados como aquela turba de mentecaptos! Mas se estavam assim vestidos era somente se por que se achavam lutando por uma causa nobre. Em outra situação, jamais trajariam tais vergonhosas vestimentas. Antes andassem nus!

Os NERD’s, porém, marcariam história em Brasília para todo o sempre.

Cena aparentemente típica: fãs desesperados e chorosos estendem os braços à beira do palco... Faixas no cabelo com “Coração Rebelde”... Faixas na mão do tipo “Chama eu”... Aquelas cantoras gost... Quer dizer, ordinárias, apontam três meninos para o segurança, os mais animados. Os seguranças descem até a platéia. Abrem as pequenas grades do curralzinho na primeira fila. Fazem um sinal para os três pseudo-fãs. Eles sobem, pseudo-histericamente. Abraçam os cantores mexicanos. Entreolham-se. Fazem um sinal pré-combinado. Um saca de uma arma. E pulam em cima daqueles otários. Mandam-nos ficarem nus e amarram-nos num canto. A multidão perplexa fica agitada. Xinga. Ameaça. Promete invadir o palco. Mas os NERD’s contêm a multidão ameaçando os gravatas-roxas. Um deles pega um microfone e se dirige à turba:

- Se vocês quiserem que esses patifes continuem com as gravatas frouxas, sigam nossas instruções. Qualquer ato de rebeldia será penalizado. Primeiro eu quero que vocês dêem um pulo e gritem hey.

A multidão pula e grita hey. Os nerd’s caem na risada. Um dos gravatas-frouxas pergunta:

- Pra que serve isso?

- Pra nada! Eu só achei engraçado um bando de idiotas pulando e gritando hey. Agora nós vamos escutar essa música até o fim. Toca aí, DJ!

O Lelé, o DJ a que se referia aquele que era conhecido como O Magnânimo, tocou uma música do Nirvana, “You know you’re right”, e, durante alguns minutos, a magnífica música ressoou pelas potentes caixas de som que pouco antes tinham sido maculadas pelo som vendido e manjado daqueles pseudo-rebeldes. Lá embaixo os acéfalos faziam expressões de contrariedade as mais variadas e esdrúxulas.

- Não gostaram não, seus mentecaptos? Agora a gente vai de Beethoven.

O Lelé toca a Nona Sinfonia no cd player. Entram umas bailarinas e começam a fazer piruetas no palco gigantesco dos Rebeldes.

- Boa noite, ordinárias criaturas do Senhor. Nós somos os extraordinários NERD’s, e vocês, a título de classificação, são o que se chama de energúmenos. Neste momento, milhares de NERDs estão em marcha progressiva pelo Plano Piloto para poder pegar pessoas pobres (Uau! Uma aliteração sem querer! Que massa, a minha primeira!) de espírito com vocês. Os NERD’s foram fundados no ano 2006 da Era Cristã, do período geológico cenozóico, pelos três generais supremos do nerdirismo que somos eu, Devana Babu, O Magnânimo... Ele ali, Lelé... E, finalmente, nosso companheiro Henrich, O Ob-escuro, que infelizmente não está conosco porque foi se unir a um grupo de meninas gostosas que se dedica à causa pouco nobre de desviar os garotos puros do caminho do Senhor, mas logo foi substituído por Dave, O Sardinha. Desde então viemos recrutando pessoas que se identificassem com a nossa causa e nosso estilo de vida, que tem como máxima única: “Não Somos Energúmenos, Nem CDFs, Somos NERD’s!”. E vocês não são NERDs nem CDFs! Vocês são os próprios energúmenos! É com você, Lelé! Por favor!

- Muito obrigado, O Magnânimo. Agora o show principal! Primeiro, os RBDs vão ter que recitar poesias de Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos.

Os Rebeldes pegam um papel gorduroso que lhes é passado por Lelé; vão à frente e recitam muito a contragosto as poesias que lhes são tão incompreensíveis quanto o motivo pelo qual Deus os fez nascer.

- E agora, aquilo que deveria ter acontecido há muito tempo atrás!

Primeiro estouraram os miolos da onomatopéia de gato, ou melhor, a Mia.

Para surpresa de todos – menos dos NERDs – os pedaços no chão revelavam uma caixa craniana vazia. Depois esquartejaram o tal do Giovani e jogaram os pedaços para o povo revoltado, que só não reagiu porque temia pela vida de seus outros ídolos idiotas. Depois injetaram uma droga que desenvolveram no laboratório da escola e que fez a outra RBD inchar até ter uma parada cardíaca. Depois empalaram o outro gravata-frouxa, e, por fim, enforcaram o carinha restante com a sua gravatinha que, de folgada, ficara muito apertada em seu pescoço. Só pouparam mesmo a Roberta, que era muito gostosa e não podia morrer assim. O público não agüentou e ameaçou invadir o palco, mas tendo Roberta como refém, os NERD’s conseguiram controlar os energúmenos. Alguns se renderam e foram para os campos de doutrinamento dos nerds. Os que se recusaram aos ditames dos NERDs foram detidos no estádio, que foi atingido por uma bomba lançada pelos mesmos logo depois.

Os NERDs marcharam triunfantes do Plano Piloto até São Sebastião e depois ficaram em uma praça da cidade discutindo assuntos científicos e filosóficos de seu interesse.

Hoje em dia, Roberta faz discípulos do nerdirismo no México e ensina NERD’s de todo o mundo a serem gostosas como ela.

A história dos nerds não acaba por aqui...

 

Devana Babu, o Magnânimo

General Superior dos NERDs


“Radical News”

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