Do alto do vale, os
motoristas que descem a DF-463 podem ver os prédios e casas que se espalham lá
embaixo, em meio ao verde característico da mata local. Ali se encontra São
Sebastião, uma cidade que já completa 20 anos, mas que tem raízes profundas e
muitas histórias para contar. Os primeiros habitantes da região faziam parte de
três grandes fazendas: Papuda, Cachoeirinha e Taboquinha. Após as
desapropriações dos terrenos, várias olarias se espalharam e tomaram corpo com
o intuito de fornecer material de construção para a capital federal, que
começava a sair do papel.
O poeta Edvair Ribeiro
dos Santos que faz hoje 52 anos de existência nesse plano, chegou à região que
viria a se transformar São Sebastião em 1968, quando tinha apenas seis anos numa
época em que não existia água encanada, luz ou telefone. Ônibus só chegou em 1977.
Mesmo assim, em três horários pré-definidos e sem chance de reforço de frota. A
cidade mais próxima era o Núcleo Bandeirante. E tinha gente acostumada a fazer
o percurso de um ponto a outro a pé. “Cansei de ir até lá dessa maneira”,
contou Edvair.
Trazido pelo pai,
Edvair permaneceu no local por opção própria. E aqui continua até hoje, com esposa
e três filhos, a quem procura ensinar a viver dentro de uma filosofia que lhes
mostre o valor daquilo que têm. “Adoro São Sebastião. Isso aqui é minha vida. É
uma cidade construída no peito e na raça”, declarou o homem, que trabalhou nas
antigas olarias da região e assistiu ao nascimento e crescimento da cidade,
hoje com aproximadamente 115 mil habitantes. “Sei que ainda temos muitos
problemas, principalmente pelo crescimento desordenado, mas já temos uma
estrutura muito boa comparando com o que tínhamos no passado”, comentou.
***
Considerado por muitos como uma espécie de Griô por trazer
na memória uma infinidade de informações sobre as pessoas e a formação da
cidade desde os seus primórdios, Edvair traz na alma a marca dos seus mortos e
o sonho dos seus vivos. Como sabemos, Griôs eram caminhantes, cantadores, poetas,
contadores de histórias, genealogistas, mediadores políticos. Eram uma espécie
de educador popular que aprende, ensina e se torna a memória viva da tradição
oral. Eram o sangue que circula os saberes e histórias, as lutas e glórias de
seu povo dando vida à rede de transmissão oral de uma região e de um país. Essa
personagem, em São Sebastião, é encarnada sobejamente por Edvair Ribeiro. Mesmo
em tempos de exacerbamento do uso das redes sociais, da rede mundial de computadores, i-phone, i-ped, i-tudo, nosso herói persiste na manutenção de uma
tradição milenar, não deixando, contudo, de utilizar-se dos novos métodos de
comunicação modernas ao dispor. Não é por acaso que após meio século de
existência, ingressou na faculdade para cursar Comunicação Social, não larga
das suas câmeras de foto e vídeo com as quais alimenta de um sem-número de
informações o seu blog e a sua página no Facebook. Além do mais é cronista,
poeta, declamador e fotógrafo . É Coordenador de uma das Ongs mais ativas do
segmento cultural na cidade, o Movimento SuperNova. Milita há vários anos como
filiado do Partido Socialista Brasileiro. É negro sem se importar com a cor da
pele de ninguém. Oleiro. Caminhoneiro. Romântico inveterado. Comunista sem ser
xiita. Católico sem fundamentalismos. Bom sem ser besta. Bom à beça. Excelente
churrasqueiro. E por tudo isso e muito mais desejamos vida longa e feliz ao
nosso companheiro Edvair Griô Ribeiro dos Santos que alguém chegou a chamar de
Ed Grigle, numa referência jocosa a Griô e Google. Parabéns, Griô. Nós do
Movimento SuperNova nos sentimos honrados em tê-lo na linha de frente de nossas
fileiras.
Paulo Dagomé com trechos de reportagem do Correio
Braziliense.
São Sebastião - DF |
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