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A dialética da diáspora rural

E pensar nessa utopia, nessa simetria toda, nessa megalomania toda, e ver os carroceiros, com suas carroçinhas cheias de tralhas, pedaços de personalidade e lixo alheio, de alguém que não vai mais precisar disso.

E pensar nos nossos zumbis, que matam, pedem, roubam e se mergulham na merda, na lavagem, por uma pedrinha mágica que lhes faz vislumbrar o sonho de quem cometeu esse crime ambiental, de quem planejou isso tudo. “Que o primeiro tapa seja o meu!” Eu digo se assim realmente o for.
E pensar na cambada de carroceiros que entopem os ministérios, na piãozada toda com suas carroçinhas de luxo, suas carroças BMW, suas carteiras lustradas com títulos de enxugadores de gelo, títulos que essa cambada se orgulha de mostrar para a polícia ou quem quer que apareça na sua frente, vestindo trapos com algum nome que esses analfabetos nem sabem o que significa.

Meu avô que andava de carro de boi e caçava capivara no interior do Goiás era mais autêntico do que essa roçerada orgulhosa em seus palácios de concreto, concreto anti-verdade, anti-vida e anti-brasil. Minha vozinha que enrola sua sedinha com fumo de rolo é a senhorinha mais independente que conheço, anda pelo centro de Goiânia com a segurança de quem conhece cada tijolinho da calçada e despista os ilusionistas urbanos que se escondem nos becos e bueiros como um Diabolik invisível, e ainda consegue ser mais surpreendente que os comedores de lavagem e vômito da minha quadra, do meu bloco.

Essa gente e sua mentalidade de roceiro, que vieram de suas roças no Goiás, de suas roças em Minas Gerais, de suas roças na Baixada Fluminense, de suas roças no interior de São Paulo, de suas roças no Nordeste, no Ceará, no Pará, de suas roças no sul, para se sentir algum principezinho nesse quadrado medíocre, nessa utopia sem sentido no meio do nada, e se não o são, se não compartilham dos conjuntões habitacionais dessa roça, fingem que são parte dessa merda toda, que se alimentam dessa mesma lavagem.
Aliás, não a minha quadra, não o meu bloco, não construí nada disso, não construo nem constituo nada disso, não me adéquo nem nunca me adequei a isso! Por mim, essa terra toda seria como era a uns 50 anos atrás: mato e roça!

Rômulo Ataides França 

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