banner supernova

 

 

Pílula Contracultural I - Sobre encontros, comunidades e "loucos"

"Entre todas as características da contracultura - como sua ênfase na importância de uma expressão desinibida e seu desejo de criar uma alternativa à liderança autoritária - a mais assinalada é sua extrema sensibilidade à alienação de qualquer matiz e às dicotomias, que impedem o trato pessoal.
Como reação a este estado de coisas, existe entre os jovens uma sede por encontros autênticos ou comunidades espontâneas - humanizadoras, saboreadoras de vibrações. Constituem-se em oposição a esta nossa cultura anti-corporal. Exalta-se o mero prazer de dar e receber.
Em um grupo de entretenimento sensorial, os pecados mortais, dentre outros, são a solidão e o cerebralismo.
Fomenta-se o intercâmbio de intimidades. E o mais importante no encontro é a intensidade da emoção expressada. Mais além da superficialidade de alguns grupos de encontro e da discutível crença de que as intimidades e emoções intensas devem ser compartilhadas apenas entre pessoas que se conhecem, há a genuína preocupação por romper as barreiras que separam os indivíduos, o que supõe um intenso esforço desalienante."

(MELVILLE, Keith. Las Comunas en la Contracultura. Traducción Rolando Hanglin. Segunda edición. Barcelona (Espanha): Editorial Kairós, 1976. Adaptado)

"(...) para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante — pop — pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah! (...)”.
................................................................................
“Além disso, todos os meus amigos (...) estavam numa fase ruim, envoltos nesse pesadelo sem nexo que é combater o sistema o tempo inteiro citando suas enfadonhas razões literárias, psicanalíticas ou políticas, enquanto Dean se limitava a viver nessa mesma sociedade, faminto de pão e amor; de qualquer maneira, ele estava cagando para tudo isso, “desde que eu descole uma gata mansa e linda com aquele lugar delicioso entre as pernas, homem”, ou “contanto que eu arranje o que comer, malandro, percebe? Tou com fome, tou morrendo de fome, vamos comer, agora, já!” —, e lá íamos nós comer, no primeiro lugar que surgisse (...)”.

(KEROUAC, Jack. On the Road (Pé na Estrada). São Paulo: Círculo do Livro, 1986)

Postar um comentário

2 Comentários

  1. uou! varavilhoso, dan! Pílulas Ideológicas Marcônicas versão SuperNova!

    Me identifiquei com ambos os autores. Adoro sua arte de fazer ctrl+c Ctrl+v de com qualidade inseparável, diria mesmo: DanTesca hahah!

    (mas claro, continuamos esperando ansiosamente sua obra autoral, rum!)

    Mal posso esperar pelo próximo.

    Agora: não gostaria de arranjar para esse seu pupilo um exemplar de On The Road? Seria uma contribuição inestimável para a formação desse seu pupilo... Ainda mais agora que ele passou na unb... (momento chantagem emocional).

    ResponderExcluir
  2. Obra autoral? Hum, é questão de tempo. Estou me saturando ainda de teoria e, principalmente, experiência. Talvez algum texto precipite depois de minha curta jornada, em futuro próximo, a Alto Paraíso de Goiás...
    Devana, agora que você faz parte dessa seleta comunidade (suposta e pretensamente) intelectual, você passa a ter o direito de retirar títulos do formidável acervo da Biblioteca Central (BCE), entre eles "Pé na Estrada": http://consulta.bce.unb.br/pergamum/biblioteca/index.php?resolution2=1024_1&tipo_pesquisa=&filtro_bibliotecas=&filtro_obras=&id=. Hehehe
    Mas se o seu sentimento for mesmo o de posse, há a alternativa "sebesca" ou "seborreica": http://www.estantevirtual.com.br/q/pe-na-estrada.
    Além da obra-prima do Kerouac, procure também "De Moto pela América do Sul", do Che...
    O (gostoso) perigo é eu virar pivô e ser culpado posteriormente de ter fomentado a formação de um "drop-out"... Mas prefiro correr esse risco a ver mais um triturado naquela grande máquina de moer carne (lembra-se daquela imagem do clipe do "Another Brick in the Wall", do Pink Floyd, em http://www.youtube.com/watch?v=t4SKL7f9n58, especialmente de 3min53 a 4min21?)...
    Meu pequeno gafanhoto, deixe a Heurística permear os poros do seu ser... KKKKK
    E voe! Fuja! Reconstrua!
    Dan

    ResponderExcluir