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Toca Raul!

"Do materialismo ao espiritualismo é uma simples questão de esperar esgotarem-se os limites do primeiro."


Misturando o misticismo e a irreverência, a criatividade e a espiritualidade, a técnica, o talento e a diferença, o Escutai hoje trata de um dos nomes que se tornou um marco na história musical e intelectual de uma geração, uma nova geração. Um nome que virou hino nos pedidos de música, nos gritos de show: TOCA RAUL!

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Raul Seixas foi um dos grandes percussores do rock 'n' roll no Brasil. Enquanto o movimento Bossa Nova estava no seu auge, lá da Bahia vem o "contra-bossa-nova" com sua banda "Relâmpagos do Rock" que mais tarde se tornaria "Raulzito e os panteras". E com esse nome, eles percorreram o solo baiano, tocando desde em pequenos eventos como no Festival da Juventude, que reuniu aproximadamente duas mil pessoas, até grandes festins nos iates com as celebridades. Mas Raul era um roqueiro sentimental¹, Raul deixou sua banda para viver um amor com a filha de um pastor protestante norte-americano, que pediu para que ele largasse-a, entrando então na faculdade de direito.
   Num show que Jerry Adriani iria fazer em Salvador, Raulzito abriu o show com sua banda. Impressionou Jerry, que chamou a banda para sua turnê. Em 1968 eles lançam seu primeiro LP, que não teve um sucesso de ambito nacional. Raul volta pra Salvador, com uma decisão que se não fosse mudada, talvez o post terminaria aqui, ou nem teria existido. Raul queria parar com a música. Analisando bem o real sentido disso, você pensa numa grande catastrofe na cronologia do rock no Brasil. Como teria sido sem Raul?
Raul Seixas
  Mas pulando esse pensamento que gera milhares de pensamentos, Raul não parou. Para nossa sorte, ele continuou. Começou a compor e produzir para Jerry Adriani, Renato e seus Blues Caps, Sérgio Sampaio e Trio Ternura. Acabou perdendo o emprego por produzir e gastar dinheiro a mais na prensagem do seu segundo LP, "Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez".
  Em 1972 as coisas começaram a dar certo. O talento de Raul foi reconhecido e ele emplacou duas músicas no Festival Internacional de Canções, sendo elas "Let me sing, let me sing" e "Eu sou Eu, Nicuri é o Diabo". Devido à aceitação do público, ele conseguiu o contrato com a Phillips Phonogram, mesma gravadora de Sérgio Sampaio, Tetê Espíndola e de Secos e Molhados. Lançou então o compacto "Let me sing, Let me sing" e o LP de coletânia dos 24 melhores covers do rock, que acabou sem nem conter o nome do Seixas. Gravou então, pela Phillips, "Ouro de tolo", que foi um verdadeiro sucesso. 
  Em 1973 saiu o LP Krig-Ha Bandolo! apresentando as primeiras parcerias de Raul com o companheiro de estudos esotéricos Paulo Coelho. Começaram a formar em parceria o grupo Sociedade Alternativa, anarquista, baseado na doutrina de Aleister Crowley (ocultista inglês, que pregava uma filosofia muito simples: Faz o que tu queres) e também destinado a estudos esotéricos. Chegariam a pensar em construir em Minas Gerais a comunidade alternativa Cidade das Estrelas. O movimento foi porém considerado subversivo pelo governo militar. Raul (que aparentemente passou por sessões de tortura), Paulo e as respectivas esposas (Edith e Adalgisa) foram exilados nos Estados Unidos. Raul viria a conhecer durante o exílio alguns de seus ídolos, Elvis Presley, John Lennon e Jerry Lee Lewis.
   Em 1988 Raul passou a compor, gravar e excursionar com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus (então em fase de extinção). O abortado Nuit (noite, para os antigos egípcios) teve música homônima lançada no LP A Panela do Diabo, sendo esta praticamente a única música que veio a público de todo o projeto original de Raul (que data de 1981, em parceria com Kika Seixas). Houve rumores de outro projeto, Persona, que também não deu certo.
  Enquanto isso, Raul apresentava sérios problemas de saúde pelo uso excessivo de alcool (e outras drogas). No dia 21 de agosto de 1989, Raul faleceu por pancreatite crônica, hipoglicemia e parada cardio-respiratória, conforme consta em seu atestado de óbito. Isso foi dois dias antes do lançamento de seu disco "A Panela do Diabo". Assim como a maioria dos artistas, o talento de Raul foi mais reconhecido do que nunca depois de sua morte. Ainda movimenta milhares de seguidores, além da mídia, que ainda o expõe muito, com documentários especiais sobre sua vida, além de coletânes e inéditos que foram lançados postumamente.
  Raul temperou o rock do Brasil, com os ritmos nordestinos, folk, blues, música brega... tudo junto numa coisa só. Uma sopa de letrinhas que escreveram palavras que ecoam até hoje, Algumas taxadas de músicas bobas, outras chamadas de música vendíveis, mas são poesias e poemas agressivos, esclarecedores e de certa forma alienadores. Ele vestiu a camisa do rock sem perder o conhecimento que já possuía e sem deixar de lado suas raízes. São músicas perspicazes falando sobre sexo, drogas, política, religião da forma mais sutil e sempre com um pouco de humor.
  Mais uma vez, nem a primeira, nem a última, 

TOCA RAUL!²






¹: Porque nem todos os roqueiros comem morcegos no palco (viva Ozzy) 
²:Nessa música está a sua marca registrada: a irreverencia. Seixas não media palavras, e a música era o seu melhor transporte para elas. Nessa música (Eu Também Vou Reclamar)por exemplo, ele deixa (in)diretamente uma provocação à Belchior.

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