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Parabéns, Tio Ari!


Hoje é o aniversário de um cara muito importante para o rock'n'roll de São Sebastião, de Ceilândia e de todo o DF: Tio Ari, o respeitado Ari de Barros.

Tio Ari está há anos na batalha do rock'n'roll e da produção independente, e sempre deu uma grande força para a galera de São Sebas. Foi um cara Superimportante em nossa última aventura em prol do RRRock.

Ari de Barros é tio de Eduardo Cabeção, mas, por osmose, o movimento rockeiro de São Sebastião o adotou como tio.

Dono de uma discoteca invejável e de valiosos conhecimentos sobre rock'n'roll, está aí um cara que deve ser admirado e reverenciado.

Em nome do SuperrRock, do SuperNova e de São Sebastião, parabéns, Tio Ari!

Em tributo, reproduzimos a seguir uma entrevista concedida por Tio Ari para o Correio Braziliense, em 15/11/2009, e que nós chupinhamos:


Muito prazer - Ari de Barros

Marina Severino
Publicação: 15/11/2009 10:04


Andar pelo Conic com Ari de Barros é como ser recebido em sua casa. Com uma bolsa de couro colada ao corpo, ele caminha pelos corredores, entre roqueiros e vendedores e, no fim da conversa, oferece almoço, lanche, jantar. Mas, apesar da intimidade com o Plano Piloto, é a Ceilândia que merece toda a atenção de Ari. Radicado no Distrito Federal há 43 anos (ele tem 58), idealizou, em 1985, o Festival Revolucionário do Rock, o Ferrock, realizado anualmente na cidade. No restante do ano, se concentra em trabalhos sociais, arrecada donativos e movimenta o cenário cultural candango.


Você é natural do interior de Goiás. Como veio para o Distrito Federal?


Sou goiano de Uruaçu, que fica a aproximadamente 300km de Brasília. Ainda criança, minha família foi expulsa da terra e veio parar aqui. Eu fui o último a sair de lá, no fim de 1966. Fomos para Sobradinho, que considero minha cidade do coração.


Você já era apaixonado pelo rock?


Foi nessa época que ouvi o que me pareceu uma música diferente, que nunca havia ouvido. Conhecia catira, Folia de Reis, Festa do Divino. Meu pai era folião. Quem se acostuma com o berro das vacas, o relincho dos cavalos, o canto dos pássaros, se espanta. Ouvi aquele som estranho, perguntei que música era aquela e descobri que era um tal de rock'n'roll. Contagiado, comecei a me interessar. Pesquisei e me deparei com os Beatles e os Rolling Stones. Os primeiros eram engravatados, os outros eram cavernosos, quebravam hotel, eram contestadores. Não tive dúvidas, eu era mais Rolling Stones! Daí conheci Bob Dylan, Led Zeppelin e Ozzy Osbourne que, para mim, é o maior vocalista de todos os tempos.


Como começou sua relação com Ceilândia?


Eu e uns amigos ouvíamos falar muita coisa ruim sobre a Ceilândia e pensamos em fazer um trabalho para alertar sobre a situação e mostrar paz e fraternidade. Visitei um pessoal de Sobradinho que havia mudado para o P-Norte, conheci mais gente do rock'n'roll que trocava informações e discos. Durante uns três anos, a partir de 1979, eu saía de Sobradinho com os LPs debaixo do braço e ia ao encontro dos amigos em Ceilândia. Nos reuníamos em volta de um 3 em 1 (aparelho com toca-discos, fitas k-7 e rádio), na rua mesmo, batendo bola e conversando no meio de um lugar violento, para mostrar a transformação social que o rock pode causar.


Quando essa reunião se transformou em Ferrock?


Fizemos isso do 3 em 1 por cinco anos, até 1985, cada vez com um nome diferente. Uma vez, durante uma festa, conversávamos sobre como isso estava tomando corpo, que precisávamos de um nome melhor para o projeto. No meio da animação da festa a discussão ficou acalorada. Alguém defendia, aos gritos, que para construir uma sociedade mais justa e igualitária era preciso ter fé no rock - Fé-Rock! E assim nasceu. Depois, numa inspiração à Bob Dylan, decidimos que a sigla seria Festival Revolucionário do Rock, fechando como Ferrock. A primeira edição ocorreu em 12 de outubro para homenagear as crianças. Usamos, como símbolo, um anjo alado, homenagem ao Led Zeppelin.


Você afirma que o rock tem a responsabilidade de mudar o mundo. Como isso pode ser feito?


No caso do Ferrock, começamos com benfeitorias em locais públicos, como P-Norte, Expansão do Setor O, QNQ e QNR. No P-Norte não havia asfalto, colégio, posto de saúde. Juntamos o Centro Cultural Ferrock e a Associação Comunitária e decidimos pisar na lama mesmo, mexer no esgoto. Mobilizamos a comunidade, fomos para a rua com faixas, protestamos na Administração, na imprensa, fizemos uma revolução social de corpo e alma. Nos primeiros anos, tirávamos dinheiro do bolso para pagar as faixas e o transporte. Fizemos um auê. Entramos em contato com a igreja local, com o grêmio estudantil e eu mobilizei o campeonato amador de futebol.


Então, não foi apenas o rock; ele foi o meio para unir várias entidades sociais.


O rock é o combustível para manter a gente vivo e atuante. Quando você está cansado, coloca o Bob Dylan pra tocar. Quando a coisa está bem pesada, bota o Pink Floyd. Se está muito ruim mesmo, coloca o Black Sabath para espantar os maus espíritos. Cada um tem sua vez. No fim de semana, quando terminava o futebol, todo mundo ia junto assar uma carninha, colocava o disco para tocar na casa dos amigos até de madrugada. Descansava, recarregava as baterias e acordava no outro dia cedo para trabalhar.


Do DF daquela época para hoje, quais mudanças e conquistas você enumera?


Avançamos muito na Ceilândia a partir dos anos 1980. Infelizmente, os governos posteriores criaram várias outras Ceilândias. Quando estávamos diminuindo a fama de violência e crime da cidade, surgiram outras parecidas, criou-se o caos generalizado, a favelização. Mas quem vai à Ceilândia hoje vê a transformação proporcionada não só pelo Ferrock, mas por outras iniciativas sociais.


Atualmente, em quais áreas vocês concentram o trabalho social?


Nas nossas campanhas, abrimos para o movimento negro e o feminista. Em relação à prostituição, lutamos pela dignidade e respeito a essas pessoas, sejam mulheres, homens, homossexuais, transexuais. Viemos ao Conic à noite tentar fazer a ponte com essas pessoas, lutar por leis mais justas. Alguns nos chamam de franciscanos porque passeamos com as pessoas. No começo, não gostamos, mas é verdade que fazemos esse papel, atuamos na comunidade. Se falta alimento ou faz frio, fazemos campanha para arrecadação de comida, agasalho e cobertores. No Natal, recolhemos brinquedos para as crianças. Isso deixa a alma tranquila e serena para lutar contra os preconceitos que ainda existem em grande parte da sociedade.


Com toda essa influência do rock, uma música extremamente urbana, o que você preserva da sua cultura do interior do Goiás?


A cultura popular ficou dentro de mim, não saiu. Graças a Deus está bem impregnada. Aquelas tradições dos meus pais e parentes continuam, gosto de Folia do Divino, da catira, da Folia de Reis, e agreguei a parte nordestina, tambor de crioula, bumba-meu-boi, cacuriá, tearo de bonecos, mamulengo. Isso tudo acumulou e cresceu. Devemos conhecer de tudo. Para saber mais do interior, deve-se ouvir também a música caipira, música de raiz, além de resgatar a sua própria história sem dar atenção ao modismo, ao atual breganejo.


O que há de bom no cenário das bandas do Distrito Federal?


Tem muita produção boa! Algumas bandas continuam aí desde os anos 1980, como Elfus, Ligação Direta, Duplo Destino, essa moçada continua na batalha; o Felipe CDC, um guerreiro incansável, também. O pessoal do metal tem Revenge, Flash Work. O Narcose, que começou com cover do Sabath e hoje só tem trabalho autoral. A galera nova dá continuidade ao movimento. O rock de Brasília está bem servido. Precisamos balançar o cenário, que é muito Rio-São Paulo. A gente precisa descobrir uma chave que abra essa porta e escancarar. Também tem o pessoal da MPB com um trabalho muito bacana.

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