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Freeday, o dia da liberdade

À nossa amplificada professora de inglês escreveu no quadro sua frase proverbial (uma delas), e uma das poucas que ela realmente escreve:


"Today is friday".

Imediatamente me veio à recordação o fato que eu havia esquecido, e que é de suma importância para garantir o estado de ânimo na semana:

Era sexta-feira. A tão esperada sexta-feira, o dia sagrado, como no inglês (fri- sagrado; -day, não querendo chamá-los de ignorantes, é claro), que antecede o dia da saturação (satur-, saturação; -day, ah, eu não vou repetir não, que eu não sou papagaio; e quer saber, eu tô chamando vocês de ignorantes sim.). A esse fato eu não havia me atentado devido ao costume à rotina fúnebre de sempre: meus 3 km do residencial do bosque, bairro onde moro, até o centrão, colégio onde estudo, as aulas sufocantes, a pontuação gratificante, as ameaças daqueles que se julgam reis da monarquia e tentam impor sua moral falsa e recuperar seu respeito próprio com os métodos mais arbitrários e de um falso poder possíveis (e num ambiente colegial não é difícil identificar quem são).

Mas esta sentença esquecida recuperou meu ânimo, reforçou meu fôlego e renovou minha fé na humanidade, tão inspirado fiquei e tão feliz, que me dei a liberdade de escrever no meu caderno:

"Today is FREEday".

Ao que fiquei aliviado e ao que um estranho e monalítico (do verbo monalisa) sorriso se manifestou em meu rosto.

Explico meu trocadilho infame: free é a tão falada liberdade, e acho que para meus colegas fatigados isto basta, mas talvez haja alguém em algum lugar que não compreende bem o espírito que invade cada coração em cada recanto do país, em tantos países quanto existam no mundo (é certo que com atraso maior ou menor, dadas as condições do fuso horário) mas a emoção é mundial, o espírito da liberdade da sexta-feira. Aquilo que une um sansebastianense a um garoto de Pequim (que tem milhões de vezes mais motivos para amar a sexta-feira mais do que nós).

Só o fato de saberem que um dia é sexta-feira já nos dá ânimo para estudar o dia todo, só pelo prazer de ouvir o último sinal tocar e sair bem devagarinho, para curtir o momento, o sinal atordoante, o burburinho abafado que enche todo o colégio, alguns grupos de garotos correndo, inclusive. Sim pois em um momento como esse alguns não poupam manifestações efusiástica, nada é proibido. As convenções desaparecem; as garotas dançam bailas enlouquecidas; os professores se convidam para beber; as professoras se combinam para ir ao clube da ASEFE; outros alunos saem diretamente pra players games, e aquela rampinha cheia de alunos se acotovelando mas felizes – pois aquele aglomerado de sardinhas está os conduzindo para cruzar os umbrais que conduzirão ao céu da liberdade e neste dia fica guardado por sete anjinhos. Pergunte a qualquer aluno sobre o portão e ele dirá:

- Tá lá, pintado de azul, cercado de anjinhos...

Afinal de contas, não obstante a todos os casos de corrupção, catástrofes naturais, guerras de interesses escusos, escravidão, exploração, opressão... mas a alma colegial só pode pensar:

- Hoje é sexta-feira!

Alguns até mesmo cantam aquele sertanejo brega metido a rock-country.

O espírito da sexta-feira invade a todos os corações e ninguém nega nem esconde, porque a sexta-feira é o certificado de uma semana estafante e cansativa, a quebra repentina da rotina rota e esfarrapada dos corredores do colégio. É a liberdade de não ter que se preocupar com nenhum compromisso para o dia seguinte, por que amanhã é sábado, o dia dos bêbados e das moças católicas. Ninguém pode controlar o espírito da sexta-feira.

Centrão, colégios, mundo:

Viva o dia da liberdade!


XXIV/III/MMVI, uma sexta-feira
Devana Babu é gato, inteligente e escritor renomado em todo o mundo, tendo ganhado, entre outros prêmios, o Nobel de Literatura e o de Paz.

“Radical News”

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