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Redução da maioridade penal ou do mais-valor? Quem é o facínora: o menor infrator ou o capitalista?*


Por Daniel Pereira da Silva

Eduardo Guimarães, lembre-se de que a cultura da violência é um sintoma de nossa sociedade individualista e competitiva. Para ser, é preciso ter, possuir, seja como for.
Em seu artigo “Como uma criança vira um monstro”, você defendeu: “O processo de deformação que cria jovens monstros está na desestruturação familiar, na ignorância, na pobreza, nas drogas e, acima de tudo, nos exemplos que crianças recebem enquanto crescem, vendo bandidos nas comunidades pobres saírem da pobreza com essa fórmula ‘mágica’ de tomar dos outros o que não pode conseguir honestamente". Eis sua tese, em suma.
Ora, Eduardo, há diferença entre o pequeno batedor de carteira e o dono do capital que se apropria do trabalho alheio? Sim, de escala. O segundo, menos evidente, é bem mais nocivo. Mesmo assim, não vemos campanha em favor da redução do mais-valor.
Afinal de contas, quem são as capas das revistas “Exame” e “Isto É Dinheiro”? Os grandes empresários de “sucesso” – este calcado na espoliação, depauperamento e superexploração do trabalhador; na apropriação do fruto de seu trabalho. O que têm em comum empresário bem-sucedido e o psicopata? Características que são consideradas virtudes: a) bom mentiroso e manipulador; b) incapaz de sentir culpa ou remorso; c) excessivamente confiante. E, para a sociedade, o enriquecido, a expensas de toda uma massa, consegue viver “honestamente”.
O problema não são os traficantes, mas ter como ídolos esses antiexemplos degenerados. O traficante é um epifenômeno. Com seu produto típico, é o empresário de sucesso da "quebrada".
Concordo com o seu argumento: “Afinal, o jovem brasileiro pobre sabe que a escola não irá ensiná-lo, que se for negro ou mestiço não será 'bem visto' por um mercado de trabalho que, segundo incontáveis estudos, ainda discrimina os brasileiros de origem africana e com traços africanos mais marcantes. Assim, é tentado pelo crime como forma de ascensão financeira”. Essa é uma parte do problema. A promoção de políticas públicas de educação e cultura realmente eficientes, assim como medidas socioeducativas efetivas, são medidas necessárias, mas não suficientes. Existe uma questão de fundo muito maior, civilizacional. Por exemplo, o que farão os jovens negros universitários, que conseguiram e conseguem estudar graças às cotas raciais? Perpetuarão a outra forma de ascensão financeira, como “aprendizes de feiticeiro” dos “empresários de sucesso”?
Aí está o nó.

* A Eduardo Guimarães, autor do "Blog da Cidadania", motivado por seu artigo "Como uma criança vira monstro" (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/05/como-uma-crianca-vira-monstro/).

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