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O humor está de luto, morreu Chico Anísio, um artista completo.



Hoje, dia 23/03/12, quando o relógio beirava a marca das 15 horas, ouvi na TV do meu quarto a musica do plantão jornalístico da Globo. Preparei-me para ouvir uma possível noticia trágica e ela não  tardou. A apresentadora Patrícia Poeta, esforçando-se para manter o controle emocional, dá a triste noticia: morreu  hoje o humorista Chico Anísio. Em seguida, ela fez a chamada para o participação da jornalista Mônica Sanches, que também demonstrando sinais de emoção no semblante e na voz, corroborou o anúncio inicial.
  Naquele instante minha mente fez um retorno imediato ao passado, indo ate o início dos anos 70, quando vi e ouvi pela primeira vez as facetas e as vozes de Chico Anísio, no programa Chico City, o primeiro programa humorístico que eu assisti e que o fazia por partes, às escondidas, já que eu era proibido de ver televisão, pois esse ato, naquela época, além de me render umas surras, poderia me conduzir diretamente para o centro do inferno. 
  Crendices que depois foram sendo superadas. E assim que ia assistindo os primeiros pedaços de programas, eu ia ficando encafifado, por notar a incrível semelhança dos personagens;  Walfrido Canavieira, o eterno candidato; Azambuja, o malandro; Coalhada, o cracão; Bozó, o funcionário da  Globo; Velho Zuza, o pai de santo; Silva, o bonitin; Jovem, o descolado;  Roberval Taylor, o locutor; Pantaleão, o contador de histórias, entre tantos outros, sendo que cada um representava com muita graça o perfil de algum membro de determinada classe da nossa sociedade.
 Essa versatilidade, naquela época, dava nó na minha cachola de menino simplório, meio que recém saído da roça, mas também aguçava minha curiosidade, pois aumentava minha fascinação pela tal da televisão a ponto de me levar a ignorar o medo do inferno e, mesmo levando pequenas surras, quando pego em flagrante vendo TV na casa do vizinho, eu insistia nessa prática, considerada pecaminosa e herege segundo a fé então professada. 
Durante as várias inversões da ampulheta, do passar do tempo, nós, brasileiros, não obstante a dureza do período da ditadura, fomos levando a vida e assimilando o jeito Chico Anísio de ser, afinal quem nunca repetiu um bordão de algum de seus personagens, quem nunca imitou pelo menos uma vez um dos seus trejeitos. 
Eu tive o privilégio de rir com os personagens por ele interpretados e de ler suas narrativas impressas nos livros: O Batizado da Vaca, O Enterro do Anão e O Tocador de Tuba, e cheguei a ser acometido de cólicas em consequência do acesso de riso, provocado por sua narrativa irônica, meticulosa, debochada e extremamente bem humorada.  Chico deixa órfãos todos os seus personagens, ou pior, ao partir, ele os leva consigo, e deixa sem representante quase todas as categorias de profissionais do Brasil, já que praticamente para todos ele criou um personagem. Morre Chico Anísio, o criador da republica do estado do humor, popularmente conhecido como Ceará.  Morre Chico Anísio, o humor fica empobrecido, e paradoxalmente a alegria se veste de melancolia. 
  Na sua última entrevista para o Fantástico, ao ser inquirido sobre a possibilidade da morte, ele deu a seguinte resposta: "Eu não tenho medo de morrer, o que eu tenho é pena, porque morrendo eu não vou ver meus netos crescendo...". Chico, para o humor, o cinema, a TV, a literatura, enfim para a arte brasileira e, por que não dizer, mundial, sua partida foi realmente uma pena, não para você, pois você concluiu o seu tempo, cumpriu sua missão, mas para a arte nacional, que o perdeu sem ter preparado um substituto para ocupar o seu lugar, para desempenhar com mesma desenvoltura o seu papel. Afinal, com sua morte, ocorrem várias outras mortes. As mortes dos tipos a quem você deu vida e nos quais você viveu.   Realmente uma pena.

Edvair Ribeiro dos Santos, em 23/03/2012.

Revisado por Daniel.

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