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Pílula Contracultural IV - Crítica ao novo totalitarismo


Por Daniel Pereira da Silva*

O problema é que estamos lidando em nossas vidas com o pior dos totalitarismos de todos os tempos: a tecnoburocracia, regime dos técnicos, especialistas e peritos, pretensamente neutros, isentos e imparciais, que se arrogou o direito de definir o tipo de sociedade, estratificada e hierárquica, com a qual temos de nos conformar. Trata-se de um fenômeno transpolítico, que permeia o Estado, independentemente da sua configuração, capitalista ou socialista, de direita ou de esquerda – “faces de uma mesma moeda”.
Entre os arautos e asseclas desse totalitarismo sutil e sofisticado, baseado na crença cientificista (a ciência como a única forma de conhecimento possível), há uma linhagem que se despojou de todo e qualquer sentimento humano, em nome da manutenção e perpetuação do “status quo”, a despeito de seus efeitos deletérios, que passam a ser naturalizados.
Nem mesmo as mentes mais criativas das histórias de ficção científica e de terror, povoadas por Franksteins, robôs, ciborgues e replicantes, que, em um dado momento, passavam a desenvolver emoções tipicamente humanas, não imaginariam, ainda que nos mais tresloucados estados de alteração da consciência, que o monstro não seria forjado do metal, mas da carne e do osso de pessoas a priori “comuns” e “normais”. Nossos supostos "semelhantes", "próximos", "pares", "iguais" seguem na contramão, em caminho inverso.
O tecnoburocrata é o sacerdote de uma distopia que, paradoxalmente, em prol de um suposto bem-estar geral, transforma o Homem, em um ser puramente racional, pois ontologicamente reduzido e apequenado, destituído de paixões – estas severamente sancionadas, por se constituírem anomalias e disfuncionalidades ameaçadoras à perpetuação do sistema. Todo sonho ou toda aspiração à plenitude, à integralidade e à holística deve ser rechaçada, enquadrada como "pecado capital".
E estamos presenciando, em nossas escolas, em nossos ambientes de trabalho, em nossas esferas político-partidárias, o surgimento de uma preocupante geração de “aprendizes de feiticeiro”, aparentemente “inescrupulosos”, “bárbaros” e “insanos”, mas que, na verdade, surgem emblematicamente como representantes dessa nova ordem, arvorando-se em perpetrar metodicamente medidas de punição aos recalcitrantes, justamente à cata do reconhecimento daqueles que o recrutaram para cumprir a sua missão tecnocrática, nessas diversas frentes da microfísica do poder.
Então, minha amiga, meu amigo, “o buraco é mais embaixo”.

* Amigo da maiêutica, colega da dialética, fã da heurística e amante da serendipidade.

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1 Comentários

  1. Olá, Daniel. Estive hoje na reunião no Movimento Zeitgeist, no TeamSpeak, e estou lendo aqui esse link que vc postou lá. Achei muuuito bom o texto. Vc conhece a obra do filósofo Andrew Feenberg? http://www.sfu.ca/~andrewf/. Recomendo esse livro aqui: http://www.sfu.ca/~andrewf/coletanea.pdf. Acho a apresentaçao e o prefácio bem ruinzinhos (o Dagnino é bem fraco), mas os textos da coletânea, apesar de umas traduçoes duvidosas, servem pra dar um gostinho das ideias do Feenberg. Ah! Não sei se vc entende inglês, mas tb tem essa palestra aqui excelente dele: http://www.youtube.com/watch?v=-HzJ_Jkqa2Q (ela existe em texto tb). Bom, é isso. Abraços!

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