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O Gosto da Música


Depois de alguns anos da perda de vozes tão lindas e fortes, parece que a música no Brasil estacionou e aquele gosto de coisa nova se perdeu entre grandes produções e carências de talentos. Ainda assim, podemos ver nomes se engrandecendo com isso e qualquer ponta de esperança já parece perfeitamente palpável, saciável, doce... Mesmo que depois crie um gosto amargo de cigarro barato no paladar, a priori parece muito bom degustar tudo aquilo nos oferecido tão facilmente.
A carência é tamanha que ou nos prendemos no clássico, repetindo os mesmos cds e vinis, fossilizando nossos ouvidos e acostumando-os às mesmas notas e ranhuras na voz, ou preconceituamos tudo aquilo de novo, temendo novamente provar um doce que por dentro é sal puro. Ou para de se arriscar, preferindo o comodismo de um rico passado, ou cria o medo de não provar e depois ter um má digestão musical. A muleira fecha e é triste.
Em pleno verão os dias parecem tristes e enfadonhos sem uma música que coloque pimenta nisso. O amarelo Sol vem murchando até que cinza fique, quando as músicas já são enfadonhas ou não tão "experimentais". O gosto insosso do café e do tédio transmutado em música.
As coisas então vão envelhecendo e pelo medo de provar ou de arriscar o passado, maravilhas vão passando diante de nossos olhos e seu gosto não chega à alma, que, de fome, quase morre. Ou é só minha essa carência de um abraço e um afago que só a música dá?
É triste ver dias que não fazem sentido nenhum porque a música certa fica como uma incógnita em uma equação de segundo grau. É aquilo que falta nos intervalos do sobe-desce do elevador ou do corpo. Mas ontem, eu achei.
Como em outras vezes, eu já tinha presenciado a beleza e por um ou mil motivos deixei que passasse despercebida por meus ouvidos. Certamente, foi encantador sua presença espontânea, ruiva e dosando bem e mal emuma voz doce e suave, falando de "an ram", cavalos e Albuquerques, dando intervalos com música tão simples e lunáticas.
A voz, em tudo, é o que mais me prende. Ela consegue traduzir perfeitamente o "meio bossa nova e rock'n'roll" quando tão simples e timidamente canta Cinema Americano. Sem muitas nuances desliza sobre os instrumentos com a harmonia de um casal dançando samba de gafieira.
Ora com um tristeza que de tão intensa e profunda é bela como a arte barroca, ora com irreverência e alegria que parece grande demais para caber em uma única pessoa.
Como quem antes de ler um livro fica apertando e soltando páginas para respirar o cheiro do papel novo, fico ouvindo uma ou duas músicas do álbum de nome absurdo para preservar o gosto das outras músicas. O gosto de quem fala de Slayer, Caetano e pau grande com a doçura que fala do abandono, do amor e do Rio.
Senhoras e Senhores, do álbum ôôÔÔôÔôÔ, cantando a música Quantas Bocas: Thaís Gulin.


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