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PLANO G: Rock'N'Fire


Ou "Os Fracos não têm vez no Rock'N'Roll!"

Por Devana Babu


O último plano, depois que se descartou a possibilidade de desistência, era o Plano G


No mundo do rock independente, as coisas nunca acontecem conforme o planejado. Mas, às vezes, isso beira o absurdo.

Coisas que só acontecem no Vale Não Tão Distante de São Sebastião.

Havia uma data: dia 03 de julho de 2010. Sabíamos que essa seria uma data especial. A data de um show de rock. Mas não sabíamos exatamente quanto, nem como.

No princípio era o PLANO A. E o PLANO A era belo e repleto de sonhos grandiosos. A glória estaria por vir. Havia uma grande estrutura em vista, uma estrutura grande e profissional. Havia dinheiro para pagar as bandas locais e contratar bandas alienígenas de peso. Havia grana para pagar o melhor mesário de rock do Distrito Federal. Havia dois dias de evento ininterruptos e, assim sendo, havia um mega acampamento entre eles. Havia motocicletas. Havia cinema. Havia esportes. Havia tudo o que poderíamos sonhar. Tudo indicava que Woodstock estaria vivo uma vez mais em nosso corações.

Mas quis o destino fatal que nossos planos fossem frustrados. E foi assim que surgiu o PLANO B. Nele, as coisas não eram absurdamente grandiosas nem tinham dimensões oníricas. Mas ainda assim eram maiores do que tudo o que poderíamos imaginar. Já não havia dois dias. Não havia mais dinheiro para pagar as bandas locais, mas somente para pagar uma única banda alienígena, que era boa, mas não era exatamente o que queríamos. A essa altura, as motos ligaram os motores furiosos e ganharam a highway, born to be wild. Mas ainda havia uma mega estrutura, uma estrutura muito boa para as nossas bandas fraternas tocarem. E um bom plano de divulgação.

Uma vez mais, porém, nossos planos foram malfadados, o que nos obrigou a elaborar o PLANO C. Podia ser pior. Pelo menos não teríamos que montar as estruturas. Ainda tínhamos algum tempo para divulgar. Tínhamos menos horas de show, é verdade. Mas tivemos algumas baixas. Tínhamos um caminhão e um palco, um caminhão-palco. Ou uma promessa de um. E muitas baixas. Companheiros que ficaram pelo caminho. Mas nada de desânimo. Podia estar ruim, mas ficou pior...

Não tínhamos mais a estrutura. Aquela estrutura bonitinha e profissional que queríamos. Mais baixas, dessa vez. Foi quase solitário andar por entre a gente. No entanto, aprendam isso, garotos: não há lugar para FRESCOS no rock’n’roll. O rock é uma coisa selvagem, viril e assassina. O rock não é para meninos. É preciso ter peito. É algo poderoso que parte de nós para as coisas e não das coisas para nós. O rock não vem de uma Les Paul. O rock não vem de um Marshall. O rock não vem uma porra de palco. O rock vem de Jimi Hendrix. Quando sua Strat pegou fogo, o rock ainda estava lá. Quando The Who e Nirvana quebravam suas guitarras, o rock ainda estava lá. O rock estava em Jim. O rock estava em Janis. Mesmo quando ela cantava à capela!

Eu tinha no meu coração essa certeza e mais outra: dia 03 o rock’n’roll iria inflamar nossas almas, mesmo que fosse escutando uma vitrola fanha trancado no meu quarto. Por quê? Não se sabe. Porque o destino clamou por isso. Porque estava escrito. E as cordas invisíveis do cosmo moveram nossas ações, mesmo que não as compreendêssemos, para culminar no que estava predestinado. É algo satânico. É algo divino.

E foi assim que surgiu o PLANO D. Mas, à essa altura, faltava apenas uma semana para o Sábado Fatal. O Sábado Negro. Nosso Black Sabbath. No PLANO D haveria uma lua, e essa lua entraria em conjunção com Vênus, e as pessoas celebrariam em torno de fogueiras e estupefacientes, poesias e, óbvio, muito rock’n’roll. Este plano se chamava Lual SuperRrock. Sim, meus amigos, I have a dream. O PLANO D ainda não está descartado... Mas quis o destino que ele não fosse realizado nessa ocasião, já que tudo já estava escrito.

Assim, passamos ao PLANO E. Que foi rejeitado.

Chegamos enfim ao PLANO F. O pior de todos. Desistir. Parecia mais confortável. Passar o sábado dormindo. Não fazer esforço. Não dar a cara à tapa e não correr riscos. Não correr o risco de dar tudo errado e pôr tudo a perder. Mas o destino, senhores, é demasiado forte... E quis o espírito xamã de Jim Morrison, morto nessa mesma data, há exatos quarenta anos, que a história se materializasse na forma do...

PLANO G: Rock’N’Fire!

O PLANO G surgiu na madrugada insana e não dormida de sexta para sábado. E ele surgiu do nada absoluto. Não havia uma estrutura. Não havia sequer algo parecido. Não havia ninguém. Só um grito e um eco (eco, eco). Não havia transporte. Divulgação? Tsc. Mão de obra? Nada. Nada. Mas eis que do barro surgiram três cubos. E uma bateria. E fantasticamente surgiram três caixas angelicais. A primeira emitia sons graves e era chamada Caixa de Graves. A segunda emitia sons médio-graves e chamava-se Caixa de Médios Graves. A terceira emitia sons agudos... Mas elas não poderiam se mover sozinhas para a Terra Prometida, chamada pelos herdeiros de Parque de Exposições. E eis que do céu desceu uma carruagem de fogo. Mas ela não veio gratuitamente, milagrosamente, como um deus ex machina. Ela veio graças ao clamor e às preces daqueles que dela dependiam. E a carruagem de fogo arrebatou as caixas para a Terra Prometida. E então, surgiram dos quatro cantos de São Sebastião os herdeiros da terra prometida, e eles resolveram tomar posse da sua terra. Todos foram convocados pelo Espírito Santo (Jim? Jimi?), e, mesmo que involutariamente, foram tocados por aquele espírito e tomaram suas funções para si. E montaram o altar. Carregaram os tijolos. Escolheram a vítima e estava quase tudo pronto para o holocausto. Então uma grande videira que havia ali inflamou-se, e suas labaredas podiam ser vistas desde o Morro Azul. O fogo do rock’n’roll estava aceso. A celebração teria início. E os gideões vieram e passaram o som e se reuniram. E atraídos pelas chamas, as massas populares vieram em enxames trajados de preto para a terra prometida, onde trombetas distorcidas e harpas envenenadas cantavam seu louvor.

Que não deviria existir. O rock, e a cultura independente de maneira geral, tem esse paradoxo. O melhor plano, o mais bem feito, nunca chegou a existir. E o plano que surgiu do nada se transformou em uma bela labareda.

Dizem por aí que foi o melhor show de rock de São Sebastião. Todos saíram felizes e extasiados. Foi uma das coisas mais lindas que eu já vi. Fruto do esforço coletivo. Mas nós não tínhamos nada! Ou tínhamos: espírito. E é disso que precisamos, ultimamente mais do que nunca.

Porque ninguém pode extinguir as chamas do rock’n’roll. NINGUÉM! E sabe quem fez o rock’n’roll? Foram vocês. Fomos nós. Todos nós. Nós acendemos a fogueira mágica.

Camon, baby, light my fire. Try to set the night on fire. Let me stand next to your fire. FIRE!

Senhoras e senhores, No dia 03 de de julho de 2010 nós todos presenciamos um show histórico, que será relembrado pelas próximas gerações. Ou não. Considere-se sempre o “ou não”. Porque podemos fazer melhor, não é?

Gostaria de agradecer a todos que tornaram possível as celebrações pagãs do dia 03, voluntária ou involuntariamente, principalmente aqueles que diziam não querer ajudar mas que o fizeram porque algo maior os dizia para fazer, sempre, e que acabavam sendo os que mais ajudavam:

Anne Kawai, que fazia aniversário nessa data, regeu com pulso firme a programação e inaugurou uma coisa chamada Anne Session, que é uma jam session onde só a banda dela toca. Ela também garantiu que a fogueira fosse acesa e se mantivesse acesa até a alvorada do dia seguinte.

Eduardo Cabeção, que com suas habilidades de penetra conseguiu muitos benefícios em nosso proveito, carregou peso e ainda pernoitou conosco no parque, para vigiar o som e desmontar na manhã seguinte sem nem sabermos como íamos levá-lo de volta, sem falar das fotografias que tirou, e nem ficaram ruins!

Deverson “Mistake Arch” Blainer, que foi o primeiro a aparecer e o penúltimo a sair, e se manteve firme conosco a cada passo errante. Carregou peso com uma mula e tocou tal qual um besta.

Renan “The Hatsome” que também carregou peso como uma mula, também tocou como uma besta e ainda equalizou o som e controlou o palco.

Célio Mão-de-Aço, que teve punhos de aço, gritou conosco e nos colocou na linha, ajudou na montagem do palco e garantiu que não fizéssemos merda.

Valmir VjayC, que montou o som todinho conosco, queimou duas potências e ficou lá até o escurecer, embora tivesse um compromisso importantíssimo, e não saiu enquanto o som não estava no ponto. Espero que a pessoa que estava esperando ele possa perdoá-lo. Ele fez isso por uma boa causa.

Paulo Dagomé, que dispensa qualquer comentário. Sem ele, sequer teríamos sonhado.

Antes tarde do que nunca: à eternamente jovem Maria Nazide, a Nanah, que levou uma deliciosa pizza pra gente comer no evento, sem a qual teríamos morrido de fome...

Leomar “Movimento Rock” Pereira, cuja expressividade virtual e presença real foram indispensáveis.

Pedro “Peter Punk”, que foi provavelmente um dos maiores parceiros em toda essa empreitada, o mais fiel e ainda gastou o dinheiro que tinha ganhado na mesma manhã, montando som no Sarau do São Francisco em prol do movimento.

Gill William, que por mais alienado que tentasse se manter, ajudou pra caramba, buscando coisas no dia anterior, levando os equipamentos no dia posterior e ainda pagando o carroção que conduziu as caixas de som de volta. Um salve também para seu Fiesta branco, guerreiro resistente. O Fiesta mais punk rock de que já se teve notícias.

Luís Próton, companheiro inseparável e eterno, de muitas outras aventuras. E aos estados alterados da mente em que se encontrou mais tarde...

A todas as bandas que tocaram: Feijoada Acidente, Água Sanitária, The Hatsome e Mistake Arch, além da citada Anne Session (Concertina Strikes Back?), que aglomerou o público no começo do show. Vocês foram fantásticos.

E principalmente às bandas que não foram porque "não precisam dessa porra”. Nós também não precisamos delas.

Ao Jim Morrison, que morreu para nos salvar, aos 27 anos, na vigésima sétima semana do ano, assim como nesse. Se ele não tivesse morrido, não teria se tornado o espírito que nos inspirou e protegeu por toda essa empreitada.

A todos os roqueiros de São Sebastião que apareceram e se mantiveram no evento. Vocês honram o rock’n’roll. Vocês são o show. O resto é poser.

E a todos aqueles de quem eu estou esquecendo.


PS 1: Inclusive eu, Daniel, o co-editor, o burguês arrependido, o contracultural tardio... Jr., só eu sei que você fraquejou... E o espírito rocker me usou... Mecenato é um dos frutos da árvore proibida... Que não peques mais!...

PS 2: O "Woodstock...", do Fornatale, está de volta. Compromisso é compromisso...

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4 Comentários

  1. devana esqueceu da mãe dele que me fez sair de casa depois da meia noite pra comprar pizza e refri pro filhinho e seus companheiros punks...

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  2. O importante foi que nenhum dos envolvidos desistiu do evento! isso que eu admiro nas pessoas a força de vontade!
    Depois até em casa eu consegui ouvir o som rolando até altas horas da madruga!! \m/

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  3. o show foi muito bom.Foi totalmente improvisado mas e daí? nun tava lá pelo cenário e sim pelo rock
    só non foi melhor pra min pq tive que ir mais cedo mas valeu os momentos que eu tava lá
    parabéns devana e a galera que organizou !!!!!

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  4. muuuuuuuuuuuuuuuuiiiiito bom menino prodigio!!

    Excêlente!!!!

    é nois keiroz!!

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