Para J. Pingo
Por Edvair Ribeiro, poeta do Movimento Supernova
Por Edvair Ribeiro, poeta do Movimento Supernova
Eu, um escritor autodidata,
escrevo com a emoção nas mãos.
Não por não ser racional ou por
não dominar a metodologia, chamada de científica e que qualifica um doutor.
Sou um ser prático, um peão, um
motorista de caminhão, um oleiro e isto deveria fazer de mim um ser duro e
ressequido, mas é que falar de J. Pingo me amolece o coração.
E ocorre que, andando na
contramão e burlando as dificuldades, por um acaso conheci J. Pingo, um monstro
semisagrado na luta pela liberdade de expressão e pela diversidade.
Era ano
de 1993 do século próximo passado. No intricado enredo que compõe a existência,
terminei alugando um espaço do tipo comercial, localizado no imóvel do dito J.
Pingo no condomínio San Diego, que nesse ano citado não detinha o glamour do
progresso que ostenta no momento.
Era um
lugar meio ermo, com poucas casas, muito mato e o comércio era composto por
poucos estabelecimentos: A loja Animax,
a Paulo Fontes, a Madepar, a Só Pedras, o Aquinos e o
prédio do Virgílio, ainda em
construção.
Depois tínhamos a casa do J. Pingo, que
comportava um mercado administrado por um amigo comum e a residência do Pingo
propriamente dita. Era uma casa muito engraçada, meio sem porta, aonde o ir e
vir era livre.
Pingo,
um meio-gigante de quase dois metros de altura, deslizava sutilmente entre a
casa e o comércio e, apesar da grande envergadura, às vezes passava
despercebido. Mas ao olhar para ele sentia-se de imediato forte aura de ternura,
de amor pela vida e pelos seres que compõem a raça humana.
Quando
estendia o olhar tinha o carregado de compreensão.
Quando
abria os braços de maneira meio lenta, era como se abraçasse o mundo ao alcance
de sua visão.
Altruísta,
humanista, aluno, professor, sonhador.
Nasceu,
cresceu e construiu, na parte que lhe cabia deste latifúndio, o sonho de um
mundo melhor.
Agora
que sua missão na terra finalizou-se, a sua aura positiva vai influenciar novas
vidas no lugar onde as almas se confraternizam sem nenhuma divisão, onde talvez
não haja castas ou camadas sociais.
Onde
talvez não haja proibições, normas, leis ou regras especiais.
E esse
lugar para J. Pingo será o paraíso, pois ele terá
conseguido alcançar seu eldorado, semelhante ao sonho de liberdade do seu
projeto começado no condomínio San Diego ao qual ele, um pioneiro, deu o nome
de Mercado Cultural Piloto. Eu e meus companheiros do Movimento Supernova de
São Sebastião, ainda em luto pela perda de um parceiro desta envergadura, consolamo-nos
ancorados na historia de vida deste que foi semi-idoso em formação,
adulto-inconformado, adolescente-podado e garoto-inconformado.
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